segunda-feira, 10 de junho de 2013

Quando os trens não usavam fraldas

JOSÉ CARLOS SERRANO


No tempo em que os trens não usavam fraldas, a minha rua era, para mim, o centro do mundo!

Era quase auto- suficiente, só lhe faltava uma farmácia !!!

Vou começar uma viagem de baixo para cima, porque os Paços do Concelho merecem o mérito e honra de início desta rua, apesar de o edifício estar no Largo Virgílio Horta, era o centro de comando de todo o concelho de Sintra, a Câmara Municipal!

De seguida a Escola Conde Ferreira, onde começou a formação de vida de muita gente desta rua, em frente a Mercearia do Sr. Orlando, um autêntico “centro comercial”, na altura: até vendia” valores selados” e tinha moagem de café;

Ao lado da Escola a Estalagem da Raposa, do outro lado da rua a Padaria da D. Leopoldina, depois o Talho do Sr. Mário, os Restaurantes Quirino e o Luso-Brasileira; os Escritórios do Sr. Soares Ribeiro e o dos irmãos Moreira; a Cabeleireira Maria Alice; o Dentista, e Delegado de Saúde, Dr. Aires Gouveia; o Stand da Fiat; o Posto Clínico (Caixa), Registo Civil e Conservatória; o Restaurante Casa dos Frangos; a Loja da Oliva, da D. Maria; a Loja de Fotografia do Sr. Félix;

O Vidraceiro, Sr. Álvaro; a Sapataria Teixeira; a Igreja Evangélica; a Caixa Geral de Depósitos; a Drogaria do Sr. Messias; os Bilhares do Sr. Marcelo; a Sapataria Carreira; a Ourivesaria da D. Ivone; a Casa de Móveis Pombal; o Dr. Telmo Henriques; o Barbeiro e Calista do papagaio!!!

Ufa !!!!

Enfim, cheguei ao cimo da Rua e desfruto das belas vistas, debruçado no muro da “correnteza”!

De facto esta era a Rua Dr. Alfredo da Costa, quando eu era puto e os trens não usavam fraldas!!!




José Carlos Santos Serrano, nascido a 17 de março de 1965, em Sintra, na Rua Dr. Alfredo da Costa (facto que era normal na altura, nascer em casa). Infância e adolescência em escola primária e secundária das freguesias de S. Martinho e Santa Maria e S. Miguel, levam a uma vivência mergulhada neste emaranhado de ruas e becos, envolvidas em quintas e palácios, parques e lagos, riquezas e privilégios completados com as praias de águas geladas e puras do nosso concelho.

Quis o destino que se tornasse funcionário da Câmara Municipal de Sintra, durante cerca de 25 anos, percurso profissional que foi forçado, recentemente, a interromper, devido a ter sido "bafejado pela sorte" com uma doença incapacitante e degenerativa - esclerose múltipla.

Em simultâneo sempre alimentou, e partilha, o gosto pelo mundo do restauro e decapagem de móveis, tendo criado um espaço, numa antiga adega, em Gouveia - aldeia em verso, na qual passa grande parte do seu tempo.

Recentemente, consequência da sua situação de aposentado, descobriu o mundo das redes virtuais, em especial o Facebook e os seus grupos de partilha, essencialmente de memórias de acontecimentos e lugares comuns, amigos, perdidos, encontrados, antigos, recentes, que preenchem, de forma muito positiva, parte significativa dos seus dias. 

11 comentários:

  1. Grande descrição, Zé! Eu que não vivia em Sintra, mas sempre "vivi" e respirei Sintra desde criança, revisitei a tua rua de então, recuperei memórias e como (quase) tudo está diferente! Grande abraço!

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  2. Olá Zé!!!
    Quero dizer-te que adorei o texto e a descrição detalhada da "tua rua". Como as coisas mudam com tempo...

    Abraço
    Pedro Paulino

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  3. E ainda havia por ai um fotografo, nao havia?

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  4. Bem que viagem no tempo, tempo este em que tudo era vivido numa outra dimensão!

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  5. Adorei a descrição da tua rua. O tempo passa e as ruas ficam diferentes, pelo menos aos nossos olhos. Nessas alturas corriamos e elas eram para nós o nosso centro do Mundo, a NOSSA RUA dos nossos amigos. Fica recordaçao. Foi o que fizeste, viajaste no tempo. Um grande abraço.Lé

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  6. Zé Carlos,de uma maneira geral e com tempos espaçados está lá quase tudo;só umas pequenas correcções,tais como:a padaria foi "também" do sr. Carlos Melo (pai do Avelino do hóquei que também lá trabalhou),restaurantes Quirino...era só um e nesse tempo designava-se por "Casa de pasto Quirino"(era meu tio,irmão do meu pai e trabalhei lá 1 ano depois de acabar a 4ªclasse,pois não havia "papel" para ir estudar para a Pedro de Santarém,na Cruz da Pedra/Jardim-Zoológico o que só se verificou no ano seguinte--era assim a vida naquele tempo).Nas traseiras e antes do meu tio lá ter feito uma pequena adega,era um armazém de carvão dos Cosmes com entrada ao lado do João Barata.A outra Casa de pasto mesmo ao lado era a Casa Argentina do sr Figueiredo.A "loja de fotografia" do Félix,antes dele e do Rogério sempre foi a Foto Sintra do sr.Nogueira,"chefe" da secção de Pesca do Sintrense,1º campeão Nac. de pesca desportiva e clube a que, nesse tempo,chegavam pedidos do estrangeiro sobre os regulamentos para os seus concursos;isto é histórico embora pouco divulgado e ...acarinhado! ).A sapataria era só uma...Sapataria Teixeira cujo proprietário era o sr. João Carreira,também muitos anos vice do Sintrense com quem trabalhei;mais tarde abriu outra sapataria na Estefânia com o sr. Júlio à frente bem como outra que mais tarde ainda abriu em M.Martins.No que se refere ao barbeiro/calista...era o sr. Aníbal barbeiro que foi para ali mais tarde também pois veio do Bairro Teimoso mais conhecido por viver lá,na altura,a velhota "ti Julinha" avó do 18.Eh pááá !! por hoje chega oh Zé Carlos , continua com as tuas recordações que têm o condão de "puxar" pelas minhas.ABRAÇO

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  7. Tudo bem dito e só acrescento que a Barbearia era do Sr. Oliveira onde aprendeu a cortar o cabelo o José Botelho.Tudo de bom para ti um abraço

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  8. O Dentista e Delegado de saúde era o meu avô paterno. Infelizmente não tenho memórias dele porque morreu quando eu tinha três anos, mas gostei de rever a sua memória através deste simpático excerto de nostalgia. Obrigado pela excelente descrição.

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