JOÃO RODIL
Mais um verão aí à porta e tudo na mesma. É aquela modorra,
aquela inércia, aquela falta de amor pela terra e pelas pessoas que me embrulha
as tripas e faz-me pensar que mal terão feito os sintrenses para merecerem
tanto desinteresse.
Aqui há dias, num noticiário qualquer e depois escarrapachado
nas páginas de um jornal, ouvi, com a surpresa de quem já nada espera, que
havia não sei quantos milhares para o litoral sintrense. Pasmei! E sorri, com
aquele sorriso meio de esperança meio de escárnio. É que gato escaldado de água
fria tem medo… E eu já sou um gato que largou a pele muitas vezes.
Falava-se nas Azenhas de Mar, com recuperação total das
arribas, da Praia de Magoito, coisa ridícula aquela de fecharem o acesso
através das belíssimas dunas estratificadas, da Praia da Aguda, talvez a mais
bela de todas as que temos, e da Praia Pequena, outrora ponto emblemático para
banhistas mais discretos que a preferiam ao bulício da Praia Grande.
Está aí o verão, e nada. Nem uma palavra, um pequeno
esclarecimento, uma previsão… uma mentirinha piedosa para enganar espíritos
mais inquietos, qualquer coisita que nos enganasse a fome de cuidados, a
vontade de oferecer as belezas da nossa terra a quem nos visita. É que as
pessoas compram postais, senhores políticos! E depois vão aos sítios, no engodo
da maravilha, e sai-lhes um postal rasgado, cheio de nódoas de bolor, a cheirar
a bafio. Estou farto de podridão.
João Rodil, escritor e historiador, autor entre outros de "Serra, luas e Literatura" e "Sintra na obra de Eça de Queirós", antigo director do Jornal de Sintra, vice presidente da Alagamares, e fundador da Liga dos Amigos dos Capuchos, entre outras actividades na área cívica e cultural
Esta frase diz tudo "aquela falta de amor pela terra e pelas pessoas que me embrulha as tripas"
ResponderEliminarA Autarquia continua a zelar sobretudo pela Vila de Sintra, e a pensar nos turistas estrangeiros claro,enquanto existirem estrangeiros tudo parece-lhes bem, mas somos mais do que isso, somos o 2º maior concelho do País, com enormes simetrias culturais e sociais...