"Atenção senhores passageiros!”
Entrei
no comboio. A porta fechou-se pouco depois, acompanhada de um estrondo.
Descansei alguns segundos da corrida que me levou do metro ao comboio em tempo
record e sentei-me apenas quando este já estava em andamento. A janela
apresentou-me, mais uma vez, a cidade como um organismo vivo, revelando
segredos que até então desconhecia.
Parece-me
curioso constatar que é possível encontrar encanto na paisagem caótica que se
agarra à linha de comboio que une Sintra e Rossio e que, como possível
agravante, vejo quase diariamente há alguns anos. A velocidade a que o corpo é
transportado permite apenas um olhar breve sobre aquilo que desperta a atenção
de cada um. O resto cabe à imaginação, veículo de velocidade distinta. Viajo à
volta dos pormenores que registo rapidamente no caderno e construo a minha
própria cidade.
Um
choque inesperado forçou a caneta deslizar no papel de modo aleatório. O braço
do senhor do lado escorregou e, roubando apoio à cabeça, fê-lo acordar com um
movimento inexpectável de um sono que me parecia profundo. Arrumei o caderno,
terminando a viagem pelo imaginário. A de comboio, pelo contrário, ainda me
reservava alguns minutos.
Gonçalo
Moleiro
29.05.2013
Gonçalo Moleiro é arquitecto e oriundo de Sintra.A paixão pelo desenho justificou a sua primeira exposição de nome “Lugares de Sintra” que decorreu em Novembro de 2011 no café “Cantinho da Várzea". Em Setembro de 2012 foi premiado no Internacional Watercolor Contest da
Sennelier e, em Outubro de 2012, participou numa exposição colectiva na
Adega Viúva Gomes, em Almoçageme. Em Novembro de 2012 publica o seu
trabalho no Facebook,
onde se podem encontrar aguarelas, esquissos e algumas experiências
gráficas.Gonçalo Moleiro convida-nos ao seu quotidiano através da sua
página com os registos no seu diário gráfico, as suas fantasias
gráficas, excertos de banda desenhada, e não só, há também acesso aos
locais onde costuma desenhar sob suporte fotográfico. Gonçalo não é só
um aguarelista, explora igualmente outras técnicas, conforme o trabalho
que tenta criar e a situação com que se depara.
“Dar a cada emoção uma personalidade, a cada estado de alma uma alma.” de Fernando Pessoa em “O Livro do Desassossego”, foi a frase que escolheu para justificação da sua página
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