quarta-feira, 19 de junho de 2013

Santa Eufémea- Um poema de Jorge Telles de Menezes

JORGE TELLES DE MENEZES

Descobri Sintra no Inverno de 1974. Já narrei esse primeiro encontro fulminante em Novelos de Sintra. Fundeei primeiro em S. Pedro de Sintra, dez anos mais tarde, depois de muita navegação. Os poemas que aqui publico, em Sintra Deambulada, são inéditos, foram escritos na primeira fase do meu percurso pela geografia da montanha da Lua.  

SANTA EUFÉMEA



Não

perto do Cabo da Roca

nem

através da fantasia dos livros.

Senão em cima dum pequeno rochedo

ao fim da vereda

para Santa Eufémea



Vendo a Lisboa

ao Tejo

e às cores

do mar

atinjo eu

os confins

dos mundos meus

S. Pedro de Sintra, 1985

Poeta, tradutor, dramaturgo, cultor de spoken word. Sintra tem despertado no autor e do muito que por sua vez o poeta nascido no Porto tem dado à Sintra que (o) adoptou: o seu nome é, com efeito, parte obrigatória do roteiro cultural sintrense, quer pela sua ligação regular às produções da companhia de teatro Tapa Furos e apoio dado a iniciativas literárias de interesse para a cidade quer pela poesia que faz ecoar na serra que Lord Byron tanto amou. Cultivando um género de espectáculos onde confluem diversas disciplinas artísticas – desde a poesia recitada e a representação à música ouvida e às artes plásticas, o grupo, em associação com o Teatro Tapa Furos, promoveu um conjunto de sessões “pantónicas”, espectáculos semi-espontâneos, próximo das jam sessions do Jazz, fundamentados na aspiração ao sincretismo patenteado nas composições do músico alemão Arnold Schönberg. As “pantónicas” mudaram certamente para sempre a forma de se dizer e de se fazer arte em Sintra. Jorge Telles de Menezes fez ouvir a sua voz de diseur também em outros momentos mais informais, como os das tertúlias poéticas organizadas no antigo restaurante Casa da Avó, acontecimentos mais espontâneos mas decerto igualmente importantes para a vida cultural sintrense. À poesia e ao jornalismo literário – foi director interino do Jornal de Sintra, encontra-se ligado à criação de um novo jornal on-line, Selene Culturas de Sintra, e assina uma rubrica para a revista Nova Águia, intitulada “As Ideias Portuguesas de George Till” – junta-se uma prolifera actividade de tradutor . A obra literária publicada de Telles de Menezes enceta com uma edição bilingue de textos em prosa poética, Numa Cidade Estranha / In einer fremdem Stadt (Berlim, Edition Sonnenbarke, 1983, trad. dos poemas para alemão por Cornelia Fuchs) e passa, em 2003, por Selenographia in Cynthia (Lisboa, Hugin, 2003), um volume que congrega experimentações de uma voz poética surpreendente, tendo como pano de fundo as cenografias pré e pós-históricas da adoração à Sintra Lunar. Novelos de Sintra (Porto, Afrontamento, 2010) dá consistência à ideia de Sintra como lugar de utopia, destino de todos os poetas lunares.

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