Perguntam-me no balcão de Sintra a minha graça. Mircia,
respondi, crioula criada na Serra das Minas. Conheço o caminho da Segurança
Social e do Centro de Emprego, mas não o dos palácios e dos poetas. Nha mãe?
Veio trabalhar para Portugal era eu pequenita, quedei-me com os tios
Mindelenses e só vim para Sintra reunir-me com nha mãe, já a família tinha
crescido. Nha mãe pediu que eu fosse: “Nha mocinha bunita, fica li com nos
família!” (minha menina bonita, fica aqui com a nossa família!), para que
tomasse conta de meus irmãos. Viajei para cá com a roupa do corpo e un pidid pa
Dêus deixa'm trazê nha cavaquinho, quel mesm ônde nha avô tocava en sês
tocatinas. E eu trouxe.
Mas fiz a escola, esse crescimento não me foi negado, e sei
que o cansado mas carinhoso abraço maternal chegou para todos.
Sempre que venho à vila é para pagar uma conta atrasada, dar
um recado, entregar documentos, ou como agora, vir pedir trabalho. Estar em
Sintra, tem um saborzinho diferente, e hoje trago o meu cavaquinho para antes
de ir, sentar-me no jardim e tocar um pouco.
Sim, eu conheço o caminho para os travesseiros, mas nunca
entrei no Olga Cadaval.
Ana Martins nasceu em Lisboa, Alvalade, no último dia de Verão do carismático ano de ‘63 quando surgem os Beatles e desaparece JFK. Acredita que de um escritor deve saber-se o que escreve não o que diz, pensa ou é.
Contudo rende-se, já neste século, às novas tecnologias e
privilegia o contacto e interactividade com seus leitores através das redes
sociais.
Sempre escreveu, nunca poemas, mas cartas a amigos e diários
em cadernos de textos intermináveis, rabiscados como esquissos de promissoras
telas nunca pintadas.
Recusa com veemência escrever de acordo com o Acordo
Ortográfico actualmente em vigor.
Colabora para diversos blogs e revistas, e tem quatro livros
publicados: “EVO (ou amar para sempre) ” 2011 ; “Mal Me Quero” 2010 ; “Autista,
quem…? Eu?” 2006 ; “Contos de Verão” 2004
Ana Martins adora inventar personagens credíveis e dar-lhes
continuidade. Não lhes impõe prazos de validade: vivem o tempo que tem de
viver, o que têm de viver. Neste blog propõe-se dar cor, voz e alma a alinhavos
de figuras ficcionadas menos óbvias que deambulam por Sintra.
Sem comentários:
Enviar um comentário