domingo, 23 de junho de 2013

Uma crítica ao desenvolvimento local/regional, por Gonçalo Salvaterra

GONÇALO SALVATERRA


Atualmente o desenvolvimento ocupa um lugar de destaque nas nossas preocupações modernistas. Especialmente no que toca à atribuição do sentido ao termo «desenvolvimento» enquanto produto social e histórico. Esta preocupação não é assim tao antiga, ela é recente no plano pós-modernista. A crítica dominante à conceção de desenvolvimento está baseada na industrialização, urbanização, burocratização e aos seus efeitos pouco desejados: deterioração ambiental, concentração urbana, desertificação rural e fracasso nas tentativas de reduzir as desigualdades socio-económicas. Tendo isto em conta é fundamental e urgente ultrapassar a ideia etnocêntrica, conservadora, economicista e historicista de desenvolvimento, que tem tido lugar hoje nas reflexões e ações relativas ao desenvolvimento (Froehlich, 1998). Neste sentido urge apontar (Lopes, 2001) em Desenvolvimento Regional. Simões Lopes afirma que as questões de Desenvolvimento devem possuir um caracter interdisciplinar, “ não há questões exclusivamente económicas; poucas haverá que sejam exclusivamente sociais. Não há um «espaço» económico que o seja isoladamente. O próprio «espaço» social, se isolado, seria demasiado restritivo”  (Lopes, 2001). Este autor defende que as causas nunca são estritamente económicas como muitas vezes vemos parecer através dos meios informativos, mas sim causas de cunho social, naturalmente com aspetos económicos, sociológicos, demográficos, políticos, institucionais, técnicos, culturais, etc. O autor aponta a visão global da economia sobre uma região como uma falha, afirmando que esta peca por ser demasiado ampla e vaga, tem que incidir na categoria «espaço» e não menosprezá-la como muitas vezes o fazem. Outro fator de mudança passa pela interdisciplinaridade, a economia não pode ser o único fator condicionante da administração local/regional, ela tem que ser complementada, os problemas nunca são estritamente económicos, antes de tudo eles são problemas sociais com aspetos económicos, sociológicos, demográficos, políticos, institucionais, técnicos, culturais, etc.

Temos que compreender que o desenvolvimento tem que ver com as pessoas- as gentes que nos lugares habitam - o desenvolvimento não é meramente quantitativo como muitas vezes nos fazem querer, ele ocupa também um grande caracter qualitativo. É aqui que as alterações nos planos de desenvolvimento devem incidir, estas medidas a pouco e pouco vão sendo introduzidas, mas não chega, é necessário políticas mais fortes de ligação entre a terra o povo e a entidade que pretende explorar a determinada localidade com a finalidade de perceber e aplicar as questões que o desenvolvimento deve impor- o equilíbrio, a harmonia e a justiça social- cuja verificação pertence á organização espacial da sociedade.

É tempo de abandonarmos a visão positivista de que a urbanização e a industrialização são os indicadores de desenvolvimento. O desenvolvimento é o abstrato que num determinado espaço pertencente a uma determinada população é considerado pela mesma, isto é, são as gentes do lugar que devem definir o que é para elas desenvolvimento.
Estudante de Antropologia
 

Bibliografia
Featherstone, M. (1990). Moderno e Pós Moderno: definições e interpretações sociológicas. Sociologia. Problemas e Práticas , pp. 93-105.
Froehlich, J. M. (Maio/Dezembro de 1998). O "Local" na Atribuição de Sentido ao Desenvolvimento . Revista Paraense  do Desenvolvimento , pp. 87-96.
Lopes, A. S. (2001). Desenvolvimento Regional. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Robertson, R. (1999). Globalização: teoria social e cultura global. Petropolis: Editora Vozes.


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