sexta-feira, 28 de junho de 2013

Imaculado

ANTÓNIO LUÍS LOPES












Querem que eu pague aquilo que roubaram,
Querem que eu guarde o grito apetecido,
Querem que eu fale o que imensos calaram
Querem que eu morra antes de ter nascido

Querem que eu coma o pão que o Diabo
Arrastou na lama do seu imenso cio,
Querem que eu seja de mim próprio escravo
Querem que eu rebente de calor ao frio

Querem ver-me alegre no meu funeral,
querem meu vazio para o poder encher,
querem convencer-me que o amor faz mal
e que do chicote só virá prazer

Querem que eu aceite ser actor de mim
E representar tudo o que detesto,
Querem começar agora pelo fim,
Com minhas virtudes provar que não presto

Querem tudo isso e muito mais que dê
Para reduzir-me ao pó que vão soprar
Querem que eu responda sem saber ao quê
Mas respondo sempre para não falhar…


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