Retomo
a minha viagem iniciada há dois dias, quando decidi sair do meu país rumo a um
país estrangeiro.
São
oito horas da manhã. Já com o pequeno almoço tomado, e pronto para uma nova
aventura, faço-me de novo à estrada no meu veículo casa. Trata-se de uma
autocaravana com seis anos de vida, que possui as condições mínimas e
necessárias para que nela se possa habitar, usufruindo de todas as belezas que
a mãe natureza nos oferece.
Apesar
da hora matinal sou surpreendido com bastante trânsito, e em especial por
verdadeiras caravanas de carros pesados de transporte de mercadorias. São filas
a perder de vista, alguns tentando ultrapassar outros mais lentos, o que
origina autênticos rolhões no trânsito, apesar das duas faixas para circulação
em cada um dos sentidos.
Nas
áreas de serviço e de descanso, vou-me cruzando com outras dezenas de carros
pesados de todo o tipo e feitio, os quais transportam as mais variadas cargas
conhecidas e outras inimagináveis.
A
vista não consegue enxergar tantos veículos estacionados, quer nas áreas
situadas à esquerda, quer nas áreas localizadas à direita. Sou levado
naturalmente a questionar-me sobre a brutal quantidade de veículos em circulação. Sobre
o monstruoso consumo de combustível, bem como para a incrível libertação de CO2
para a atmosfera. Ocorre-me à memória a recente paralisação dos camionistas
exigindo redução do preço dos combustíveis. Sou assaltado por fortes
preocupações relacionadas com a crise dos combustíveis, nomeadamente no
diminuir das reservas, da exploração intensiva, dos limites, porque tudo tem um
ponto final, e da excessiva e porque não total dependência da civilização
moderna pelo ouro negro.
É
facto que os camionistas com os seus transportes e movimentos, percorrendo
todas as partes e todos os lugares, num mercado totalmente aberto, são uma
força de respeito, e suporte financeiro das várias economias por esse planeta
fora. E se é verdade que sabemos perfeitamente o que pensam e desejam os homens
de negócios, e todos aqueles que vivem e são satélites destes, de certeza
absoluta que poucos são os que se preocupam com os comportamentos e reacções
que o planeta vai sofrendo, e a maneira como este vai reagindo às ofensas que
sofre a todo o instante.
É
urgente repensar as políticas energéticas e aplicar as alternativas já
conhecidas e menos poluentes. É necessário rever os meios de transporte,
reduzir consumos, trabalhar com alternativos, inverter a política consumista e
do deita fora para trocar por novo. Estamos a delapidar recursos. Estamos a
comprometer as gerações futuras, deixando uma terra esgotada graças à prática
da política da terra queimada.
O
sol sobe no horizonte apesar de algumas nuvens teimosas, que de vez em quando
insistem em cobri-lo por breves momentos. Decido fazer aquilo a que costumo chamar
de fazer uma parada técnica. Saio na primeira área de repouso, que me aparece
assinalada na estrada. Apeio-me da viatura e dirijo-me para os serviços de
apoio. A minha atenção é automaticamente disparada para uma torneira que se
encontra aberta, vertendo e desperdiçando água. A nossa água potável. A escassa
e cada vez mais poluída água que constitui toda a nossa existência. O elemento
fundamental na existência do homem. Aquela mesma água pela falta da qual morrem
dezenas de humanos diariamente. Que falta de consciência e sensibilidade
planetária.
Alto!
Mas o que é isto?
Se
por causa dos preços dos combustíveis e da paralisação dos camionistas foi o
que foi, como será quando a água potável escassear? Ou estamos demasiado
ocupados com o nosso umbigo, que não nos apercebemos do resto, desse resto que
é ao mesmo tempo tudo?
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