Duas
instituições de caridade marcaram o panorama sintrense desde tempos
medievais. Refiro-me ao Hospital do Espírito Santo e à Gafaria de
Sintra. No que concerne à primeira instituição, documentos de
arquivo atestam a ancestralidade da sua implantação no centro
nevrálgico da vila, isto é, na contiguidade do Paço Real. Por
outro lado, a Gafaria, diferenciada do Hospital do Espírito Santo
(apesar de com ele formar um único organismo ou instituição
jurídica), situava-se primitivamente nas imediações do “cabeço
do Ramalhão”, mais precisamente, segundo relata Silva Marques (cf.
Cartório
da Misericórdia e Hospital do Santo Espírito e Gafaria de Sintra,
1940), na atual rua do Fetal, em S. Pedro de Penaferrim. Em finais do
século xv,
a Gafaria é transferida para uma zona relativamente próxima mas
mais a poente (sobranceira à Praça D. Fernando II), onde ainda hoje
é possível observar a Capela de S. Lázaro (foto abaixo), remanescente imóvel do
complexo aí instalado.
Se é verdade que o
Hospital manteve atividade até à década de 1980, a Gafaria, por
seu turno, entrou em rápido declínio no decurso do século
xvi,
à medida que a lepra dava evidentes sinais de retrocesso no nosso
país.
A cronologia de
acontecimentos que a seguir se apresenta pretende, no essencial,
revelar aspetos marcantes da vida das duas instituições; tanto
quanto seja possível desde que há memória documental até ao ano
de 1545, momento em que são anexadas à Santa Casa da Misericórdia
de Sintra, então fundada.
1368
(outubro, 8)
– O juiz, vereadores e procurador da vila de Sintra, reunidos no
“Chão de Oliva”, em frente do Paço Real, tomam conhecimento de
que o rei (D. Fernando) não concorda que os rendimentos do Hospital
e Gafaria de Sintra sejam despendidos em outros “negócios do
concelho”.
1369
(abril, 22)
– O juiz e vereadores reúnem a fim de corrigirem a irregularidade
apontada, reconhecendo que o melhor será elegerem um “homem bom de
consciência” que seja provedor do Hospital e Gafaria. Para o
efeito, nomeiam João Anes, “homem bom e sem cobiça”, residente
“à Fonte da Pipa”.
1403
(setembro, 28)
– Gonçalo Anes, tabelião, pede escusa do cargo de provedor do
Hospital e Gafaria, para o qual havia sido nomeado por ser “homem
de boa fama”. O requerimento é indeferido.
1403
(dezembro, 22) –
Gonçalo Anes, tabelião e provedor do Hospital e Gafaria, reclama o
pagamento de “pão e dinheiros” devidos à instituição pelo
Município de Sintra, sob pena de proceder à venda de bens do
concelho até ao montante da dívida.
1545
(março, 10)
– A rainha D. Catarina, mulher de D. João III, escreve ao juiz,
vereadores, procurador e homens bons da vila de Sintra dizendo-lhes,
com prévia autorização do rei, que deseja muito que em Sintra haja
uma Confraria de Misericórdia.
1545
(julho, 8)
– A rainha D. Catarina escreve aos citados destinatários,
respondendo à carta em que estes lhe deram conta da formação da
“Confraria da Santa Misericórdia”, e agradece-lhes que tudo
tenha sido “tão bem feito como eu de vós confiava que havíeis de
fazer”.
1545
(setembro, 23)
– D. João III, a pedido de sua mulher, resolve anexar o Hospital
do Espírito Santo e a Gafaria de Sintra à recém criada Confraria
de Misericórdia.
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