Os Diamantes Negros foram uma das bandas mais emblemáticas
de Sintra dos anos 60. Carlos José "Cainhas" (bateria), Carlos
Rodrigues (saxofone), Álvaro José Silvestre (guitarra), e Carlos Henriques
"Xixó" (guitarra) a que se juntou depois Luís Cardoso na guitarra
baixo, foram sem dúvida uma lufada de ar fresco na Sintra da época, animando
bailes e festas ao som dos Shadows, Beatles ou Beach Boys. À beira de completar
50 anos de carreira, depois da estreia a 25 de Janeiro de 1964 na Sociedade
União Sintrense, falámos com eles numa solarenga tarde de Dezembro:
Querem recordar a vossa estreia em 25 de Janeiro de
1964?
25 de Janeiro
de 1964, Sociedade União Sintrense, pano fechado e grande expectativa, tudo a
postos. O Carlos Nascimento fez a apresentação, e surgiu a primeira música- Round and Round- às 22 horas, mais coisa
menos coisa, o velho pano de boca de cena, verde pela frente e vermelho para o
palco abriu-se, e apareceram quatro jovens, nervosos mas decididos, a tocar uma
música dos Shadows, sem viola baixo.
Foi o delírio. Mas as palmas foram tantas que daí até às cinco da manhã, cada
música foi um êxito, palmas e mais palmas. O Xixó tocou piano com estrondo no Quando calienta el sol , e cantou em
espanhol, o que para ele, todo virado para o inglês, era assim o mesmo que lhe
arrancar os dentes todos. Mas nós queríamos ser e éramos abrangentes, tínhamos
música inglesa (era a base) francesa, italiana, e no dia da apresentação até o
Caínhas, sempre à bateria, cantou uma canção do Marino Marini, o Perdoname, com o Xixó ao piano, o Álvaro
José na guitarra, o Carlinhos Rodrigues no sax.
Tínhamos
para a apresentação coisas muito rudimentares. Quem estava melhor equipado,
embora mal e por pouco tempo era o Xixó. Ele tinha uma viola nova, uma Egmond, que custou três contos, uma
fortuna para a época; o Álvaro José tinha uma Tulip comprada em segunda mão; o Caínhas tinha uma bateria velha
que desencantou numa casa de penhores e que, se virem bem a foto da época,
concluem que era impossível tocar alguma coisa naquele instrumento, mas deu
para a festa de apresentação.
Temos vários
episódios giros. A aparelhagem da guitarra de acompanhamento do Álvaro José era
uma telefonia e a ligação para o pick up
era feita com duas bananas. E aquilo dava som? Quase nada, mas naquele tempo davam-se
bailes no Parque da Vila para mil pessoas ou mais sem aparelhagem e com o
Avelino Gil a cantar, ou com uma aparelhagem de 15 watts!
Qual foi o percurso da banda ao longo destes
cinquenta anos?
Quando
fizemos um ano foi uma festa de arromba, tivemos um banquete servido no
gabinete da Direcção da S.U.S., espectacular! Seria uma grande falha não falar
na Comissão de Senhoras que se esmerava em apresentar um beberete feito à custa
da mobilização de quase todas as senhoras e do comércio da Vila Velha, que por
ordem da D. Martinha Correia e da D. Mariana Gaspar, mais tarde também da D.
Esmeralda (de Monte Santos), tudo fizeram para que os nossos aniversários
fossem uma festa. Destaque para o dia 11 de Setembro de 1965 quando vencemos a
terceira eliminatória do Concurso Yé Yé
no Teatro Monumental, em Lisboa. Concorreram outras bandas sintrenses,
eliminadas logo à primeira. Na meia-final, a 8 de Janeiro de 1966, fomos
eliminados pelos Sheiks, na altura “só”,
a melhor banda portuguesa, Outro momento a destacar é a edição em 1966 do nosso
único disco EP, que incluiu os temas “O
dia em que te vi”, “Rosas Brancas”, “Quero-te sempre a meu lado, meu amor”, e
“Eu sei meu amor”.
Outro
momento alto, foi o Concurso Académico de Música Moderna, organizado pela CITU,
(Centro de Intercâmbio e Turismo Universitário), a 17 de Maio de 1968. Ganhámos
as eliminatórias, fomos à final e ficámos em segundo lugar, só batidos pelos Espaciais do Porto, que actuaram com o
pseudónimo de PSICO, e tinham nas suas fileiras entre outros o Miguel Graça
Moura.
A guerra de
África afastou o grupo e os Diamantes, primeira fase, acabaram em 1970, tendo
havido uma tentativa de reanimação do grupo em 1974 com uma formação que tinha
como meta música do tipo do conjunto Chicago. Tinha José Freitas no trompete,
Álvaro Cruz no sax alto e tenor, Caínhas na bateria, Reinaldo Nunes, guitarra e
voz, Jaime Pereira, baixo e voz e Augusto nas teclas. Acabou no início de 1976.
Mais modernamente, o reconhecimento oficial da carreira dos Diamantes Negros,
dá-se em 1997 com a inclusão do tema “O
dia em que te vi”, na esgotadíssima dupla coletânea, “Biografia do Pop Rock” e em 2004 na coletânea “All You Need Is Love” com o tema “Quero-te sempre a meu lado”. Em
Março de 2003, no Auditório Olga Cadaval, voltaram a juntar-se.
Os Diamantes
Negros fizeram digressões por todo o país, actuaram na Madeira, Espanha, França
e Itália, e em 1998 uma formação dos Diamantes Negros, com Luís Cardoso, viola
baixo, Júlio Ribeiro, voz e guitarra, José Raimundo, bateria, e Dr. Mário Braga,
viola solo, fizeram até uma digressão a Toronto, Canadá, onde foram muito
aplaudidos e bem recebidos. Daí para cá os Diamantes Negros nunca mais pararam.
Com esta formação e mais tarde com os elementos fundadores, Caínhas e Xixó.
E hoje, ainda vão mantendo viva a chama?
A amizade e
união que sempre nos guiou, juntou-nos novamente no pós-reforma. Actualmente a
Banda tem quatro elementos: Carlos José Santos “Caínhas”, Carlos Henriques,
“Xixó”, Luís Cardoso, e Jaime Pereira. Temos feito actuações com carácter
beneficente, e também em festas populares e particulares. O nosso quadragésimo
aniversário, festejado no Salão da Terrugem, teve a presença de mais de
seiscentas pessoas, e será de celebração o programa dos 50 anos que teremos em
2014.
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