Na manhã do
passado dia 5 de Junho, durante a apresentação pública do Festival de Sintra
2014, o senhor Presidente da Câmara referiu-se ao Festival de Salzburg para
afirmar que, no próximo ano – altura em que vamos comemorar cinquenta edições –
Sintra vai ter condições para apresentar uma programação digna da Meca da
grande música.
Como já tive
oportunidade de esclarecer, no uso de uma hipérbole bem aplicada, o Dr. Basílio
Horta apenas pretendeu aproveitar aquela oportunidade de troca de impressões
acerca da actual 49ª edição, comprometendo-se, desde já, com o maior empenho
pessoal, para a afectação dos recursos indispensáveis, em 2015, à organização
de um festival à altura dos seus melhores pergaminhos.
Ao Festival
de Salzburg, portanto, se referiu o Presidente. Na realidade, bem pode assim
designar-se embora tendo em consideração que, afinal, tão só e especificamente,
se alude ao Festival de Verão, certo é que o mais importante, o mais conhecido
da cidade dos príncipes arcebispos, mas apenas um dentre mais onze (!!!) que o
burgo promove ao longo dos doze meses do ano, cada um dos quais
importantíssimo, e também designado como festival de Salzburg…
Confirmando
como assim é, durante temporadas sucessivas, a partir de Salzburg, subscrevi
artigos para o Jornal de Sintra, três vezes por ano: um, durante a Mozartwoche
[Semana Mozart], festival de Inverno, exclusivamente dedicado a Mozart, quase
duas semanas entre Janeiro/Fevereiro, coincidindo com o aniversário de Mozart
(27 de Janeiro); um outro, o Österfestspiel [Festival da Páscoa] e ainda o
Salzburg Festspiel no Verão. E bem posso gabar-me do sucesso dessa escrita
porquanto alguns dos meus leitores acabaram mesmo por ir a Salzburg.
A montante
de uma fascinante realidade, que nos remete para um quadro deveras propício de
cidade dos festivais, em que as belezas naturais e o património edificado
desempenham papel crucial, cumpre lembrar que, de há muitas dezenas de anos a
esta parte, Salzburg se apetrechou para acolher uma grande concentração de
eventos musicais.
Essencialmente,
capitalizou o factor da localização geográfica estratégica. Basta ter em
consideração que alguns dos meus amigos, vivendo em Milão ou Stutgart fazem a
viagem de ida e volta no mesmo dia, para não referir os de Munique, que estão a
dois passos. Estranho, estranho é o que comigo acontece que, para lá chegar e
regressar a casa, tenho de fazer um total de quase seis mil quilómetros! Como
chego a lá ir três vezes por ano…
Números impressionantes
Então,
passarei a apresentar os dados estatísticos mais recentes, referentes ao ano de
2013 e, reparem bem, só no que se refere ao Festival de Verão. Estão
preparados? Pois bem, durante os 40 dias da iniciativa, dispondo de 14
auditórios, houve 293 espectáculos, dos quais 38 récitas de 6 grandes produções
de ópera, 9 de récitas concertantes de ópera, 94 de concertos sinfónicos,
coral-sinfónicos e recitais, 60 de récitas de teatro, 37 de espectáculos para
crianças, 1 baile, 35 espectáculos especiais, 19 ensaios gerais abertos ao
público.
Quanto aos
bilhetes, estiveram 256.285 disponíveis (estão mesmo a ler bem, duzentos e
cinquenta e seis mil, duzentos e oitenta e cinco ilhetes!), dos quais 73.834
referentes às óperas, 62.719 às peças de teatro, 119.732 aos concertos. Os
espetadores provieram de 73 países dos quais 39 eram não europeus. Vendeu-se
93% dos bilhetes disponíveis sendo de E:28.285.082 (vinte e oito milhões,
duzentos e oitenta e cinco mil e oitenta e dois Euros) a receita da bilheteira.
Estiveram acreditados 653 jornalistas ao serviço dos media de 35 países.
Quanto às
receitas, a distribuição é a seguinte: da venda dos bilhetes, 46%, da
Associação dos Amigos e patrocinadores do Festival, 4%, Patrocínios e dádivas,
18%, Financiamento Público, 17%, Fundo de Promoção Turística, 4%, Outras
Receitas, 11%. O último estudo datado de 2011, elaborado pelo Zentrum für
Zukunftsstudien Fachhochschule Salzburg, entre outras conclusões, demonstra que
o efeito deste Festival de Verão no domínio das receitas fiscais equivale ao
triplo do montante do investimento das entidades públicas. Finalmente, que o
impacto geral do Festival no volume de negócios e na produtividade se cifra em
cerca de 276 milhões de euros! E, não esqueçam, em apenas 40 dias de Festival.
Valerá a
pena, em Sintra, ter estes dados em consideração? E ainda lembrar os casos de
outros famosos festivais como Bayreuth, Verona, Luzern que também já me têm
ocupado nas páginas deste jornal? Julgo que, salvaguardadas as questões de
escala, se se pretende que Sintra volte a ocupar um lugar de referência
nacional, permitindo-se lançar algumas pontes além fronteiras, então estas
fontes podem ser preciosas. Voltaremos a este assunto.
Salzburg Festspiel
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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