Só
Sinto, só, o solo
árido e torrado
e apodreço-me
Bebo, só, o vinho
ácido e martelado
e esqueço-me
Como, só, a carne
azeda e malcheirosa
e adoeço-me
Durmo, só, o sono
intermitente e atormentado
e canso-me
Leio, só, o livro
alegre e alienado
e aborreço-me
Procuro, só, o amor
verdadeiro e tolerante
e perco-me
Vivo, só, o momento
necessitado e expirado
e, de vós, retiro-me
João P. Afonso Aguiar
Sintra, 1 de Junho de 2014
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