O Infante D.
Manuel de seu nome completo Manuel José Francisco António Caetano Estêvão
Bartolomeu de Bragança, foi o sexto filho de Pedro II de Portugal e de sua
esposa, a Rainha D. Maria Sofia de Neuburgo. D. Manuel Bartolomeu deambulou
cerca de duas décadas pelas grandes capitais das Cortes da Europa, onde sempre
foi acolhido com deferência, afinal era irmão do Grande D. João V. dessa
epopeia pessoal e ousada ficou-nos alguns relatos escritos nas Gazetas então
publicadas um pouco por toda a Europa como o Journal de Verdun que regista os
movimentos do príncipe; e a sua fama mundana inspirou dois escritores franceses
contemporâneos: Madame Dunoyer, nas suas Lettres Historiques et Galantes,
descreve com admiração as graças do príncipe e as festas dadas em sua honra
pelo conde de Tarouca. O Abbé Prévost no seu livro Mémoires et Aventures d'un
Homme de Qualité que s'est retiré du Monde, vol. IX informa que :“Obrou feitos
de guerra nos Balcãs”; com o apoio do imperador da Áustria, esteve quase a ser
rei da Polónia; em 1732 foi o seu nome lembrado para receber a nova coroa da
Sardenha e da Córsega; faltou o apoio político e económico do seu irmão Rei D.
João V. Este “aparente alheamento” de D. João V ao “protagonismo”, nas Cortes
da Europa, do seu irmão Manuel era um assunto com origens de cunho muito
pessoal de relação familiar. Aos 18 anos o Infante embarcou, a 4 de Novembro de
1715 (Gazeta de Lisboa, n.º 20, imagem abaixo), secretamente para os Países
Baixos num barco inglês, sem consentimento do Rei seu irmão, com destino à
Holanda. A pedido seu regressou à pátria, veio por Paris, onde foi hóspede do
conde da Ribeira Grande. Mas voltou a fugir, frustrando os intentos de D. João
V, seu irmão. Na sua fuga de Lisboa, sem ordem, deixa extensa carta ao irmão
Rei, afirmando que «ia servir ao Imperador seu primo na guerra da Hungria» onde
lhe pedia que o assistisse «com o que cá lhe dava e com o mais que esperava da
sua real grandeza». As verdadeiras razões desta fuga, não estão completamente
definidas. D. António Caetano de Sousa diz, na sua História Genealógica da Casa
Real Portuguesa, de 1741, que o Infante partiu porque seu espírito belicoso
ansiava pela glória dos combates e Portugal estava em paz. Outros
investigadores comentam que o Rei queria que o irmão tomasse Ordens Sacras, uma
vez que estava em curso a criação da Patriarcal, 1716. Pinheiro Chagas
(História de Portugal 1869-1874) comenta que, «depois de deplorável desavença,
o Rei perdera a cabeça e lhe dera uma bofetada em público; fugira para apagar a nódoa na sua honra, em movimento de arrebatada indignação. Sua popularidade
aumentou.» Veríssimo Serrão, em
«História de Portugal», volume V, página 248, diz que «Bebeu na
educação, uma forma de altivez que tinha as marcas da valentia e do pundonor,
haja vista uma das divisas que compôs aos 10 anos: «Mais devem os homens
estimar perda da vida com honra do que viver com infâmia».
Na sua fuga fez-se
acompanhar de uma restrita comitiva de três pessoas. Um filho do Conde de
Tarouca, Manuel Teles da Silva, da sua idade, mais dois moços criados, um
reposteiro e outro de serviço geral, algumas jóias, 20 mil cruzados em prata e
uma letra do mesmo valor, da parte do comerciante Manuel de Castro Guimarães,
para receber em Londres. Foram os parcos meios com que chegou à Holanda.
A sua vida aventurosa
na Europa terminava em 1734. Regressa a Portugal, cheio de dívidas, uma vez que
o seu Irmão, D. João V, sempre se recusou sustentar seu estilo efusivo de vida
e pretensões políticas, conforme demonstrou Ernesto Soares na sua obra «O
infante D. Manuel (1697-1766). Subsídio para a sua biografia» que se alicerçou
em documentação coeva. Partindo de Baiona com um séquito, de 22 pessoas, entre
as quais o capuchinho padre Agostinho de Lugano, pregador do Imperador, chegou
a Lisboa a 21 de Outubro, véspera do aniversário do rei, mas uma vez desembarcado,
o encontro de reconciliação entre os dois irmãos – com sinais externos de
afecto e ternura – apenas veio a dar-se em Mafra, dois dias depois, onde se
encontrava a Família Real. Sabe-se, também, que as dívidas foram parcialmente
pagas mediante um adiantamento de rendimentos da herança paterna. A partir de
1734, a sua residência é fixa no Paço dos Senhores de Belas, na Vila de Belas.
Neste Paço e quintã, já então paradisíaca, os movimentos do Infante eram
vigiados, por dois guardas. Não podemos deixar de salientar, aqui, o facto de
os Senhores de Belas terem, entre outros cargos, o de capitães da Guarda da
Guarda Real desde o tempo de D. João IV.
A Comitiva do Infante, ali residente, não
iria além dezena e meia de pessoas, uma clara redução do séquito com que
regressou ao reino. Duas a três famílias que seguramente o acompanhavam desde
as suas andanças pela Europa oriundas, pelo menos duas, os Herigoyen e os
Paçamana, de Baiona, e os Andrade Moreyra e Casquete de Madrid e Ceuta. Sabemos
da existência destas pessoas a residir em Belas, na Vila e no Paço. A partir
dos Registos Paroquiais de Belas, nomeadamente o de Baptismos, onde temos os
assentos de nascimentos e baptismos de várias crianças em que o Sereníssimo
Infante D. Manuel Bartolomeu é padrinho. Uma dessas famílias, os Herigoyen,
acabam por se estabelecer na vila em “um pedaço de chão e baldio, junto ao
curral do Concelho” que o senhor D. Luís Castelo Branco faz aforamento a
“Martinho (de Martim) Harigoyem Castanheiro, criado do Infante D. Manuel”(Cart.
Not. de Belas). Do seio desta Família nasceram duas crianças, ambas afilhadas
do Infante D. Manuel, uma rapariga, a Clara, e um rapaz, o Manuel José
Herigoyem Registado com os dois primeiros nomes do ilustre padrinho. Este
Manuel José Herigoyen vai ganhar uma notoriedade surpreendente como arquitecto
e engenheiro militar, na Alemanha do Século XIX (olimposintrense.blogspot.). O
seu pai Martinho era Wagomestre do Infante, isto é especialista em carros
(carroças) de transporte e coches. Um negócio rentável na época da grande
construção do palácio de Mafra.
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