“O teatro precisa de perseverança”
Rui Mário,
40 anos, encenador e ator com 23 anos dedicados ao teatro, sobretudo à sua
companhia de sempre, o Tapafuros, falou-nos de si e do teatro em Sintra,
passado e futuro.
O Rui Mário está há 23 anos ligado ao teatro que se
faz em Sintra, e é conhecido sobretudo como encenador do grupo Tapafuros. Como
surgiu o gosto pelo teatro, e o que destaca desse percurso?
Tudo começou
na Escola Leal da Câmara e nas encenações que um grupo de alunos fez a partir
de certa altura para as aulas de Filosofia do professor Carlos Amaral. Recordo
a Apologia de Sócrates, entre eles. Mais tarde integrei o Grupo de Teatro de
Letras (GTL), em 1994, e aí tive o prazer de muito aprender com Ávila Costa,
meu mestre desse tempo. O grupo Tapafuros, com existência formal como
associação a partir de 1994, vinha já do período das apresentações de
Filosofia, em 1990, tendo como primeira peça na fase de profissionalização “O
Principezinho”, em 2000.
Como vê a relação do público com o teatro hoje e
nomeadamente como vê a apetência do público local pelo fenómeno teatral?
Há um
afastamento notório no público suburbano, contudo, há que lutar para mostrar
que há mundo para além do dormitório. O teatro tem um pendor universalista, e
isso o provou o público diferenciado e vindo de Lisboa ou de concelhos
limítrofes quando nos apresentámos na Quinta da Regaleira durante vários anos.
Foi efetuado um estudo que demonstra que o público tipo desses espetáculos
tinha formação superior e era da faixa etária entre os 18 e os 40 anos.
Que peças mais gostou de encenar e quais as que ainda
gostaria de levar à cena, como encenador e como ator?
Gosto muito
de Becket, Garcia Lorca, Shakespeare. Destacaria, de entre as iniciais, O Amor de D.Perlimpim com Belisa em seu
jardim, mas todas são desafios, são filhos por igual. Uma peça por
representar? À espera de Godot, sem
dúvida, em qualquer papel. Para 2014 e enquanto Tapafuros estamos a apresentar
no Estúdio 2M, em Mem Martins, VerboPessoa,
com base na obra de Fernando Pessoa, e estreámos igualmente uma peça designada Cor!Ação!, para todas as idades, e
gostaríamos se vier a ser possível, de apresentar as Guerras de Alecrim e Manjerona nos jardins do Palácio de Queluz.
O Tapafuros tem desde 1999 um espaço teatral em Mem
Martins. Considera que esse local continua a responder às exigências atuais?
Que planos têm para o dinamizar?
O nosso
contrato de comodato vem de 1999, mas passados estes anos há que realizar obras
estruturais, visando o conforto e a melhoria do nosso trabalho.
Que conselhos quer deixar a quem queira hoje enveredar
por uma carreira no teatro?
Como
formador, apostar na perseverança. O país está hoje mais apetrechado de
equipamentos, mas quem vem para o teatro tem de vestir a camisola. Há que
reinventar o teatro, comunicar a necessidade e a urgência de ver e vir ao
teatro.
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