RENATO EPIFÂNIO
O balanço do II Congresso da Cidadania Lusófona, que decorreu a 16 de Abril de 2014, relativamente ao primeiro, realizado em Abril de 2013, igualmente na Sociedade de Geografia de Lisboa, foi claramente positivo. Eis o que foi devidamente salientado na mesa final de Conclusões, onde, sob a presidência de Carlos Vargas, intervieram João Salgueiro, António Gentil Martins, Miguel Real, Manuel Ferreira Patrício e Garcia Leandro que, tendo tido que se ausentar ao final da tarde, deixou uma mensagem, que foi lida, onde desde logo salientou “o sucesso, com muito trabalho, do II Congresso da Cidadania Lusófona, organização das Sociedades Civis da Lusofonia, que, pouco a pouco, se vai reforçando”, ressalvando que “estes Congressos são apenas pequenas sementes duma rede que deve sempre crescer”, dado que, como acrescentou, “a Lusofonia tem potencial para ultrapassar as fronteiras políticas, já que é uma realidade cultural, que deve ser também económica”.
O balanço do II Congresso da Cidadania Lusófona, que decorreu a 16 de Abril de 2014, relativamente ao primeiro, realizado em Abril de 2013, igualmente na Sociedade de Geografia de Lisboa, foi claramente positivo. Eis o que foi devidamente salientado na mesa final de Conclusões, onde, sob a presidência de Carlos Vargas, intervieram João Salgueiro, António Gentil Martins, Miguel Real, Manuel Ferreira Patrício e Garcia Leandro que, tendo tido que se ausentar ao final da tarde, deixou uma mensagem, que foi lida, onde desde logo salientou “o sucesso, com muito trabalho, do II Congresso da Cidadania Lusófona, organização das Sociedades Civis da Lusofonia, que, pouco a pouco, se vai reforçando”, ressalvando que “estes Congressos são apenas pequenas sementes duma rede que deve sempre crescer”, dado que, como acrescentou, “a Lusofonia tem potencial para ultrapassar as fronteiras políticas, já que é uma realidade cultural, que deve ser também económica”.
Era já essa, de resto,
a aposta de Agostinho da Silva, um dos grandes inspiradores deste desígnio
estratégico da convergência lusófona, por diversas vezes evocado ao longo do
Congresso, nos 20 anos do seu falecimento, que, ainda em vida, nunca se cansou
de dizer: “Trata-se de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de
língua portuguesa, política essa que tem uma vertente cultural e uma outra,
muito importante, económica”. Os mais cínicos dirão que isso será uma
mercantilização da Lusofonia, não percebendo que a sua força reside
precisamente em cruzar os vários planos: não só o cultural e o económico, como
ainda o político e o social. A convergência lusófona cumprir-se-á,
simultaneamente, em todos esses planos ou não se cumprirá. No essencial, foi
essa a resposta que resultou da questão geral deste Congresso: “Que prioridades
na cooperação lusófona?”. Tendo cada país e região as suas especificidades, o
que, em geral, todos salientaram foi que essa cooperação deve ter sempre
presente esses diversos planos: o cultural, desde logo, mas também o social, o
económico e o político.
Não houve ninguém que
tivesse posto isso em causa – nem da parte da manhã, onde tomaram a palavra
Luís Aires Barros (Sociedade de Geografia de Lisboa), Carlos Manuel Castro
(Câmara Municipal de Lisboa), Maria Perpétua Rocha (PASC: Plataforma Activa da
Sociedade Civil), Renato Epifânio (MIL: Movimento Internacional Lusófono) e
Luísa Janeirinho (Sphaera Mundi: Museu do Mundo), na Sessão de Abertura e,
depois, Adriano Moreira (Presidente Honorário do Congresso), Ana Paula
Laborinho (Instituto Camões), Gilvan Müller (Instituto Internacional de Língua
Portuguesa), Guilherme de Oliveira Martins (Centro Nacional de Cultura) e Vítor
Ramalho (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa); nem da parte da
tarde, onde falaram representantes de Associações da Sociedade Civil de todo o
espaço lusófono: Vítor Fortes e Zeferino Boal (Angola), Armando Jorge Silva e
Loryel Rocha (Brasil), Alberto Rui Machado (Cabo Verde), Maria Dovigo e
Alexandre Banhos (Galiza), Djarga Seidi (Guiné-Bissau), José Lobo do Amaral
(Macau), Luísa Timóteo (Malaca), Delmar Gonçalves (Moçambique), Mário Lopes e
Celso Soares (São Tomé e Príncipe), e David Guterres (Timor-Leste).
Como eu próprio
defendi, enquanto Presidente do MIL: “Se há povo que compreende bem a
importância da Lusofonia é, precisamente, o timorense; porque ela foi a marca
maior de uma autonomia linguística e cultural que potenciou a resistência à
ocupação indonésia e a consequente afirmação de uma autonomia política que,
como sabemos, só se veio a concretizar mais recentemente, já no século XXI.
Mesmo após esse período, tem sido a Lusofonia o grande factor de resistência ao
assédio anglo-saxónico, via, sobretudo, Austrália. Contrapolarmente, o Brasil,
pela sua escala, poderia ser o único país a ter a tentação de desprezar a
mais-valia estratégica da Lusofonia. Nunca o fez, porém. Pelo contrário –
apesar de alguns sinais contraditórios, a aposta na relação privilegiada com os
restantes países e regiões de língua portuguesa parece ser cada vez maior.
Quanto aos PALOPs: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, essa também
parece ser, cada vez mais, a aposta. Simplesmente, reiteramo-lo, porque é do
interesse de cada um desses países este caminho de convergência. Por isso, é a
Lusofonia um caminho de futuro. Por isso, é a Lusofonia um espaço naturalmente
plural e polifónico, que abarca e abraça as especificidades linguísticas e
culturais de cada um dos povos desta comunidade desde sempre aberta ao mundo”.
Não foi, porém, o caso
de Timor-Leste que esteve em destaque neste II Congresso da Cidadania Lusófona,
mas o da Galiza, por causa do Prémio Personalidade Lusófona, promovido pelo
MIL, com o patrocínio do Instituto Internacional de Macau. Depois de já terem
sido premiados Lauro Moreira, Ximenes Belo, Adriano Moreira e, mais
recentemente, Domingos Simões Pereira, ex-secretário-executivo da CPLP:
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o premiado deste ano foi Ângelo
Cristóvão, em reconhecimento de todo o seu incansável trabalho em prol do
reforço dos laços entre a Galiza e a Lusofonia. Tal como quase todos os
timorenses, também muitos galegos sabem bem a importância da Lusofonia. Se não
fosse esta, a Galiza, na sua autonomia linguística e cultual, já se teria
dissolvido de vez no espaço castelhano. Eis, desde logo, o que foi salientado
ao final da manhã, na mesa em que estiveram presentes Alarcão Troni (Presidente
da SHIP: Sociedade Histórica da Independência de Portugal), José Lobo do Amaral
(em representação do Instituto Internacional de Macau), Renato Epifânio e
Fernando Nobre (em representação do MIL), para além, obviamente, do premiado.
Saliente-se ainda, ao
final da tarde, a intervenção de representantes de algumas entidades da
Sociedade Civil de Portugal – nomeadamente: a DARIACORDAR – Associação Contra o
Desperdício, a Associação 8 Séculos de Língua Portuguesa, a Associação Mares
Navegados, o Centro de Estudos da Lusofonia Agostinho da Silva e o Instituto
dos Mares da Lusofonia –, para além da conferência proferida pelo Secretário de
Estado do Mar, Manuel Pinto Abreu, que, naturalmente, defendeu a importância
estratégica do mar. Por fim, registe-se que, no âmbito do II Congresso da
Cidadania Lusófona, decorreu ainda um muito concorrido Jantar-Concerto no
Palácio Foz, magnificamente organizado pela Sphaera Mundi, com cerca de uma
centena e meia de pessoas, onde houve espaço para a música, a dança e a poesia
de diversas proveniências lusófonas, e, sobretudo, para os afectos. Como
sublinhou Maria Perpétua Rocha, a Lusofonia não pode ser apenas motivo para o
exercício da teoria mas também para o encontro de afectos. De resto, terá sido
essa a segunda grande conclusão deste II Congresso da Cidadania Lusófona: para
que venha a haver uma Comunidade Lusófona importa haver primeiro um genuíno
sentimento de fraternidade entre todos os falantes de língua portuguesa. Nesse
plano, foi também este Congresso uma “semente”, uma pequena grande “semente”.
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