Se bem que, o objectivo do
presente texto seja o da sistematização das opiniões que apresentei na passada
semana, não poderia perder a oportunidade de ainda me referir ao caso da
Correnteza.
Tanto quanto me parece, apesar de
carecer de uma atenção especial quanto ao actual estado do lindíssimo pavimento
em calçada à portuguesa, trata-se de um espaço com características únicas onde,
além das feiras, desde já é possível promover alguma animação de rua.
Em especial, durante os fins de
semana, conviria estimular, por exemplo, o aparecimento de iniciativas
relacionadas com a prática da ginástica e de outras expressões de educação
física, devidamente programadas e com calendário compatível, animadas por
técnicos habilitados, provável e naturalmente, relacionados com entidades
sediadas no Quarteirão.
Por outro lado, este também é um
lugar que, ao ar livre, se apresenta particularmente adequado à animação com
recurso às artes performativas. Consideraria interessante equacionar certas
formas de teatro e de expressão corporal, a mímica, a pantomina, o tradicional
teatro de marionetas e algumas atitudes circenses.
Imediatamente, porém, nas suas
mais diferentes modalidades e variados aspectos, se evidencia a prática da
música. É a oportunidade para dar lugar às bandas filarmónicas, grupos de
crianças e de jovens músicos das Escolas de Música do concelho, atitudes estas
eventualmente subordinadas a determinadas temáticas relacionadas com a época do
ano ou outras, com o propósito de que todos os envolvidos obedecessem a um
programa multifacetado mas de acordo com uma grelha comum.
Prática de exercício físico, por
um lado, artes do palco e animação musical, naquele específico espaço aberto,
por outro, com recurso a palco coberto ou coreto desmontável, são atitudes
indissociáveis do enquadramento institucional e apoio logístico autárquico,
quer da União das Juntas das Freguesias de Sintra quer da Câmara Municipal
cujos serviços afectos à animação cultural conhecem perfeitamente a situação.
Finalmente, a referência a um
aspecto que, passe a presunção, igualmente me parece da maior pertinência, ao
qual já dispensei atenção em anteriores oportunidades de escrita sobre a
Correnteza. Importa e urge que, em definitivo, a Câmara saiba encarar este
local como uma das mais espectaculares salas de visita de Sintra. Para o
efeito, estrategicamente instalada uns metros acima, a Casa Mantero dispõe de
um espaço absolutamente privilegiado.
Ali, na sua humilde e demasiado
discreta expressão actual, existe e aguarda a devida atenção, uma pequena mas
potencialmente sofisticada unidade de restauração, com aquela fascinante esplanada panorâmica,
concessionável entidades vocacionadas para a exploração de proposta tão exigente. Não me anima qualquer propensão
materialista mas é evidente que «aquilo» tem um alto preço. E mais não
acrescento. Recuso-me aceitar tratar-se de mais um caso em que dá Deus nozes…
Abrangência da Cultura
No primeiro artigo subordinado ao
título Quarteirão das Artes, partilhei convosco um princípio cuja pertinência
não carece de demonstração, nos termos do qual a promoção de actividades
culturais numa comunidade é algo que deve acontecer no entendimento de que a
Cultura não é uma realidade isolável de um todo coerente.
Mais especificamente, se bem se
lembram, o vector primordial do texto a que me reporto e que hoje estou
concluindo, apontava para um quadro de referência em que a prática das
civilizadas atitudes culturais se articula, inequívoca e integradamente, com
realidades de outros sectores de actividade numa desejável sintonia.
No contexto de tal perspectiva de
abordagem, também se evidencia que, por não poder ser considerada redutora e
voluntariosa, a promoção do programa implícito e constante da proposta subscrita
pelos Senhores Vereadores da Câmara Municipal de Sintra Paula Neves e Luís
Patrício, há-de respeitar a metodologia de intervenção coincidente com a
preocupação aqui manifesta.
Seria conveniente que,
precisamente neste sentido, se pronunciassem os intelectuais, mulheres e homens
de Sintra afectos às Letras e às Artes, os professores, jornalistas e, em
particular, os agentes culturais que trabalham no seio das entidades referidas
pelos autores da proposta, de tal modo que assumissem a defesa e divulgação
desta perspectiva de actuação que, estou certo, não poderão deixar de
subscrever.
É nestes termos que,
naturalmente, em articulação com a proposta, se impõe a reabilitação do espaço
urbano que integra o designado Quarteirão das Artes. De facto, infelizmente,
não faltam edifícios por recuperar, alguns, aliás, património municipal. Mas a
natural evidência e imposição dessa necessidade e subsequente procedimento
hão-de conduzir, não à intimação mas ao incentivo dos proprietários à
concretização das obras, através de medidas verdadeiramente encorajadoras,
desburocratizadas, dinâmicas, atentas ao interesse geral da comunidade, enfim,
atitudes cultas, de uma administração local civilizada.
Crucial
Mais uma vez, insistirei na
inquestionável pertinência dos trabalhos a efectuar na Heliodoro Salgado, o
principal eixo de circulação de peões e de viaturas na zona da Estefânea. Seria
essa a altura ideal para a concretização do projecto de prolongamento da linha
do Eléctrico de Sintra, desde a Vila Alda até à estação terminal da CP e Vila
Velha, resolução que implicará na adopção de outras medidas relacionadas com o
acesso de residentes e comerciantes a certos pontos críticos, encerramento de
segmentos de algumas vias, o respeito escrupuloso de um regime muito exigente
de cargas e descargas, etc.
Questões de ordem estética
servidas por adequadas soluções técnicas, aplicadas com a desejável eficácia –
items que foram manifestamente descurados aquando da concretização da
pedonalização da via – é o que, actualmente, será justo esperar de um executivo
autárquico que, ao aprovar por unanimidade a proposta do designado Quarteirão
das Artes, está condenado a estas civilizadas atitudes.
Ainda integrada neste quadro de
medidas, a requalificação da bolsa de estacionamento na área circundante ao
edifício sede do Departamento de Urbanismo – indispensável às viaturas cujos
ocupantes pretendam aceder aos eventos culturais – inseparável da reinstalação
da passagem-ponte pedonal, que tanto tarda e prejuízo causa a todos quantos precisam
circular a pé entre a Portela e a Estefânea.
Num pequeno parêntesis,
permitir-me-ia afirmar que, nesta concreta e crítica situação, em que toda a
comunidade dos dois bairros da sede do concelho é negativamente afectada, há
demasiado tempo, está mesmo em jogo a demonstração cabal da capacidade de
intervenção dos actuais autarcas. Sabemos que a estrutura já foi recuperada nas
oficinas da Câmara pelo que resta desejar o maior sucesso para as difíceis
negociações em curso.
Também crucial para a vivência cultural
das iniciativas do Quarteirão das Artes, a instalação dos parques periféricos
de estacionamento, medida incontornável, insuportavelmente adiada, que importa
concretizar no mais curto período possível, ainda que faseadamente, sem fazer
qualquer concessão à qualidade que tal solução pressupõe. Nada arrisco nesta
que é a minha mensagem mais recorrente, cuja inevitabilidade de materialização
também é condição sine qua non para a melhoria da qualidade de vida no coração
do município.
[João Cachado escreve de acordo
com a antiga ortografia]
Sem comentários:
Enviar um comentário