Sentada
no sofá vejo ondas que invadem praias, engolem bares.
Sinceramente?
Não sinto nada. Parece-me tudo tão previsível como o viver dentro da boca-vulva
de um vulcão e chorar a sua erupção.
Qual
é o risco de amar uma mulher bonita? O mesmo que se paga por habitar, domar, os
locais mais invejados.
O
Homem chora, eu não.
Frigida!
- acusei-me.
Olho
para o chão e vejo uma pequena sombra; Filho de peixe sabe nadar. Fugiu-me uma
cria... Está parada, paralisada, encostada à parede fria.
- Mãe ... Vamos todos
morrer?
A
cara branca, os olhos de cão , a faca que me rasga. Afinal estou viva. Revejo
naquela expressão-rija-tensa todo o pânico que senti no dia em que descobri que
não somos imortais.
Não
fui capaz de mentir.
- Sim; Vamos todos
morrer.
- Quando?
- Não sei.
- podemos ir juntos ?
...
...
A
mulher é este vale-montanha, com o seu lado lunar, azul corvo, metálico, frio,
e o seu lado solar, quente, árido, amarelo inflamado, encarnado.
Chorei.
Perco-me
no meu pensamento.
Regresso.
- Mãe , quando ?!
Traumatizei
o meu filho mas não sou capaz de mentir. Mentir é adiar a verdade que virá
naturalmente ao de cima como o mar engole a terra.
- Quando chegar o nosso
dia.
Ele
suspira. Eu também. Damos um abraço com apenas uma certeza:
Somos
mortais; vivemos enquanto temos oportunidade.
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