Não
tenho a mais pequena dúvida de que, oportunamente, ao fazer-se a avaliação das
actividades culturais em Sintra promovidas durante o ano em curso, este mês de
Março, evidenciar-se-á como um período marcado por uma deveras gratificante
vitalidade. Para já, necessário fosse demonstrá-lo neste preciso momento, aí
estão, no âmbito do Teatro, o Festival Periferias, iniciado no passado dia 4 e,
no outro caso, o da Temporada Tempestade e Galanterie, no domínio da Música,
que arrancará já no próximo sábado, dia 8, ao qual dedicarei um artigo a
publicar já na próxima edição.
Quanto
ao primeiro referido, por me parecer que muito bem define a singularidade da
iniciativa promovida pelo “Chão de Oliva”, Centro de Difusão Cultural em
Sintra, passo a citar:
“(…)
Vindos de Matosinhos ou Brasília, do Mindelo ou da Beira, durante doze dias nos
unirá a palavra dita e a emoção declamada, a tonitruante experiência de outros
palcos em lutas pela sobrevivência ou por uma legítima afirmação, e tudo
sonoramente transmitido nessa língua que é de Pessoa e Craveirinha, Ondjaki ou
Jorge Amado.
Em
Sintra, terra onde diletantemente se enche a boca de Cultura mas a Cultura
resiste na intermitência de iniciativas e avareza de recursos, o Chão de Oliva,
pioneiro hoje como no passado, volta a dar o exemplo, e o seu pequeno teatro,
singelo e resistente, será por esses dias a ágora iluminada da língua na qual
secularmente celebramos, sofremos e lutamos. (…)” [Fernando Morais Gomes, Unir
as periferias para uma nova centralidade, no blogue ‘O Reino de Klingsor,
20.02.2014].
Com
esta minha chamada de atenção que, de modo algum, dispensa a consulta do
programa, também gostaria de realçar como, em plena Estefânea, no coração da
sede do concelho, foi possível articular vários espaços culturais, dois dos
quais, Vila Alda e Casino, são municipais, para acolher a relevante iniciativa
cultural à qual Sintra está associada, já pelo terceiro ano, e que, desta
feita, apresenta uma dimensão ainda mais evidente.
Em
três palcos, desde a Vila Alda-Casa do Eléctrico – onde permanecerá a estupenda
e imperdível exposição O secreto mundo das marionetas orientais, da colecção
privada de Elisa Vilaça (Macau) – à Casa de Teatro de Sintra, para actuação dos
grupos d’Orfeu, Associação Cultural (Águeda), Asta (Covilhã), Teatro Por Que
Não (Brasil), Grupo de Teatro Haya-Haya (Moçambique), Jangada Teatro (Lousada),
As Caixeiras (Brasil), Te Atrito (Faro), Grupo Teatral Craq’Otchod (Cabo
Verde), Fantoches Baj (Galiza), e ao Casino de Sintra que acolherá o
espectáculo da Cia Teatro Constantino Nery (Matosinhos).
Primeiro êxito
A
verdade é que já é possível referir o sucesso reservado à primeira iniciativa,
precisamente, a referida exposição cuja abertura coincidiu com a inauguração do
Festival. Trata-se de uma estupenda iniciativa que assume o princípio
inequívoco de que a exposição é um lugar de formação. Só visto! O que ali se
aprende, as portas e janelas que se abrem para um mundo tão fascinante,
confirma como foi acertada a aposta.
Indissociavelmente
ligada a Maria Elisa Rocha Vilaça, Directora da Escola de Artes e Ofícios da
Casa de Portugal em Macau, incansável animadora deste universo espectacular, é
um repositório extremamente bem montado, com um ritmo muito adequado à
aprendizagem de todos os públicos. O fascínio de surpresas sucessivas espreita
o visitante que não tem qualquer hipótese senão permanecer num bom estado de
encanto.
Começar
assim, precisamente, com um dos mais ricos suportes milenares das artes
performativas, é coisa de gente sábia. João De Mello Alvim e a sua gente do
Chão de Oliva, estão de parabéns. E para lhos apresentar directamente, em nome
de todos nós, lá estiveram o Vice Presidente Rui Pereira e mais três Vereadores
da Câmara Municipal de Sintra, Marco Almeida, Pedro Ventura e Luís Patrício,
cabalmente demonstrando como o mérito se reconhece.
Casino
Ainda
a propósito, embora lateralmente, uma especial referência me seja permitida em
relação ao caso do Casino de Sintra, reforçando e acrescentando informações já
produzidas noutras oportunidades. É este o edifício que a Câmara Municipal de
Sintra tem comprometido para o acolhimento da Colecção Bartolomeu Cid dos
Santos e do notabilíssimo núcleo adstrito de obras de famosos artistas
contemporâneos amigos pessoais de Barto, tais como Paula Rego, Júlio Pomar,
Vieira da Silva, ou o galáctico Francis Bacon!!!
Através
de decisão do anterior executivo autárquico, já honrado e confirmado pelo
actual presidido pelo Dr. Basílio Horta, cujo alcance constituirá inequívoca
mais-valia para Sintra, em resultado da atractividade que suscitará a nível
nacional e internacional, o Casino de Sintra voltará a disponibilizar obras de
Arte Moderna e Contemporânea, capitalizando o crédito que acumulou durante a
vigência do Protocolo com o Comendador Berardo.
Trata-se
de um espaço físico traçado por Norte Júnior, cujas características, em
conjugação com o Centro Cultural Olga Cadaval, também da autoria do mesmo
arquitecto, constitui um dos mais interessantes dispositivos culturais a nível
nacional. Pois bem, o Periferias, cuja programação inclui uma exposição/feira
do livro subordinado à temática teatral e um espectáculo no Casino, também vem
lembrar que, futuramente, nos termos do Protocolo de Cedência da referida
Colecção, sempre haverá espaço destinado a iniciativas que a Câmara Municipal
de Sintra decida patrocinar.
João Cachado escreve de
acordo com a antiga ortografia
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