segunda-feira, 10 de março de 2014

Sintra, festivais de Teatro e Música em Março I

JOÃO CACHADO


Não tenho a mais pequena dúvida de que, oportunamente, ao fazer-se a avaliação das actividades culturais em Sintra promovidas durante o ano em curso, este mês de Março, evidenciar-se-á como um período marcado por uma deveras gratificante vitalidade. Para já, necessário fosse demonstrá-lo neste preciso momento, aí estão, no âmbito do Teatro, o Festival Periferias, iniciado no passado dia 4 e, no outro caso, o da Temporada Tempestade e Galanterie, no domínio da Música, que arrancará já no próximo sábado, dia 8, ao qual dedicarei um artigo a publicar já na próxima edição.



Quanto ao primeiro referido, por me parecer que muito bem define a singularidade da iniciativa promovida pelo “Chão de Oliva”, Centro de Difusão Cultural em Sintra, passo a citar:



“(…) Vindos de Matosinhos ou Brasília, do Mindelo ou da Beira, durante doze dias nos unirá a palavra dita e a emoção declamada, a tonitruante experiência de outros palcos em lutas pela sobrevivência ou por uma legítima afirmação, e tudo sonoramente transmitido nessa língua que é de Pessoa e Craveirinha, Ondjaki ou Jorge Amado.



Em Sintra, terra onde diletantemente se enche a boca de Cultura mas a Cultura resiste na intermitência de iniciativas e avareza de recursos, o Chão de Oliva, pioneiro hoje como no passado, volta a dar o exemplo, e o seu pequeno teatro, singelo e resistente, será por esses dias a ágora iluminada da língua na qual secularmente celebramos, sofremos e lutamos. (…)” [Fernando Morais Gomes, Unir as periferias para uma nova centralidade, no blogue ‘O Reino de Klingsor, 20.02.2014].



Com esta minha chamada de atenção que, de modo algum, dispensa a consulta do programa, também gostaria de realçar como, em plena Estefânea, no coração da sede do concelho, foi possível articular vários espaços culturais, dois dos quais, Vila Alda e Casino, são municipais, para acolher a relevante iniciativa cultural à qual Sintra está associada, já pelo terceiro ano, e que, desta feita, apresenta uma dimensão ainda mais evidente.



Em três palcos, desde a Vila Alda-Casa do Eléctrico – onde permanecerá a estupenda e imperdível exposição O secreto mundo das marionetas orientais, da colecção privada de Elisa Vilaça (Macau) – à Casa de Teatro de Sintra, para actuação dos grupos d’Orfeu, Associação Cultural (Águeda), Asta (Covilhã), Teatro Por Que Não (Brasil), Grupo de Teatro Haya-Haya (Moçambique), Jangada Teatro (Lousada), As Caixeiras (Brasil), Te Atrito (Faro), Grupo Teatral Craq’Otchod (Cabo Verde), Fantoches Baj (Galiza), e ao Casino de Sintra que acolherá o espectáculo da Cia Teatro Constantino Nery (Matosinhos).



Primeiro êxito



A verdade é que já é possível referir o sucesso reservado à primeira iniciativa, precisamente, a referida exposição cuja abertura coincidiu com a inauguração do Festival. Trata-se de uma estupenda iniciativa que assume o princípio inequívoco de que a exposição é um lugar de formação. Só visto! O que ali se aprende, as portas e janelas que se abrem para um mundo tão fascinante, confirma como foi acertada a aposta.



Indissociavelmente ligada a Maria Elisa Rocha Vilaça, Directora da Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau, incansável animadora deste universo espectacular, é um repositório extremamente bem montado, com um ritmo muito adequado à aprendizagem de todos os públicos. O fascínio de surpresas sucessivas espreita o visitante que não tem qualquer hipótese senão permanecer num bom estado de encanto.



Começar assim, precisamente, com um dos mais ricos suportes milenares das artes performativas, é coisa de gente sábia. João De Mello Alvim e a sua gente do Chão de Oliva, estão de parabéns. E para lhos apresentar directamente, em nome de todos nós, lá estiveram o Vice Presidente Rui Pereira e mais três Vereadores da Câmara Municipal de Sintra, Marco Almeida, Pedro Ventura e Luís Patrício, cabalmente demonstrando como o mérito se reconhece.



Casino



Ainda a propósito, embora lateralmente, uma especial referência me seja permitida em relação ao caso do Casino de Sintra, reforçando e acrescentando informações já produzidas noutras oportunidades. É este o edifício que a Câmara Municipal de Sintra tem comprometido para o acolhimento da Colecção Bartolomeu Cid dos Santos e do notabilíssimo núcleo adstrito de obras de famosos artistas contemporâneos amigos pessoais de Barto, tais como Paula Rego, Júlio Pomar, Vieira da Silva, ou o galáctico Francis Bacon!!!



Através de decisão do anterior executivo autárquico, já honrado e confirmado pelo actual presidido pelo Dr. Basílio Horta, cujo alcance constituirá inequívoca mais-valia para Sintra, em resultado da atractividade que suscitará a nível nacional e internacional, o Casino de Sintra voltará a disponibilizar obras de Arte Moderna e Contemporânea, capitalizando o crédito que acumulou durante a vigência do Protocolo com o Comendador Berardo.



Trata-se de um espaço físico traçado por Norte Júnior, cujas características, em conjugação com o Centro Cultural Olga Cadaval, também da autoria do mesmo arquitecto, constitui um dos mais interessantes dispositivos culturais a nível nacional. Pois bem, o Periferias, cuja programação inclui uma exposição/feira do livro subordinado à temática teatral e um espectáculo no Casino, também vem lembrar que, futuramente, nos termos do Protocolo de Cedência da referida Colecção, sempre haverá espaço destinado a iniciativas que a Câmara Municipal de Sintra decida patrocinar.



João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia

Sem comentários:

Enviar um comentário