Nós podíamos todos viver até ao ano de 2500, bastava apenas
que a contagem deixasse de ser feita pelas voltas que a Terra dá à volta do Sol
e se passasse a contar pelas nossas resoluções de novo ano. Resoluções para
2014: Temos os clássicos – deixar de fumar (duração: 6 dias); perder peso
(duração: 26); etc. Temos os projectos de vida – voltar a estudar (duração: 36
dias); escrever um livro (duração: 35 dias); etc. Se grande parte das nossas
resoluções para o ano de 2014 já terminaram há algum tempo, então, em que ano
que estaremos agora?
Porém, este grande feito – de viver 500 anos – levanta um
problema. É que para termos conseguido viver até ao ano 2500 teremos de usar
como calendário a duração das nossas «resoluções anuais», só que isso irá
afectar as gerações de 2500, cuja contagem é feita pelo movimento de
translação, porque nós não fizemos História. Ao não termos prosseguido com as
resoluções pelo tempo que estava inicialmente determinado (365 dias) nós não
inscrevemos o nosso presente na História (Obviamente, que, para efeitos de
fazer História, não me refiro aos «clássicos» mas, ainda assim, é provável que
continuar a fumar reduza as hipóteses de fazê-la). Agora imaginem o que será
das gerações de 2500 quando não puderem invocar a História porque, pura e
simplesmente, nós não a criámos. Claro, que também não a queremos criar para
que as gerações desse ano se sirvam dela como forma de consolo para alguma
espécie de síndrome de inferioridade se as coisas estiverem a correr menos bem
na altura. Esperemos que elas compreendam que lá por nós termos feito História
hoje (caso cumpramos com as nossas resoluções), não significa que eles (caso
não tenham cumprido com as suas resoluções) vão ser um País que deve ser
tratado como «alguém» que faz a diferença.
Portanto, apetrechem-se dos instrumentos necessários que
está na hora de inscrever o presente na História, aliás, já passa um pouco da
hora mas – sem descurar a atenção que temos que dar a essa peste1
que assombra Portugal – mais vale tarde que nunca. E toca de encher o quarto, ou
escritório, ou sala, de fotografias de referências ou ícones da nossa vida.
Estejam eles vivos ou mortos, sejam eles longínquos ou familiares. Não acredito
que não tenham um familiar, Mãe, Pai, Tia, Avô, que não tenham orgulho de pôr
em grande numa fotografia na parede do vosso quarto? Façam um poster dessa fotografia! Façam papel de parede dessa fotografia e
forrem o vosso quarto com ela! (Isto já é estúpido. E como sei que o leitor ao
escutar [através dos olhos] as minhas galvanizantes palavras já estava a
ponderar em passar no AKI ao fim da tarde para comprar papel de parede,
peço-lhe que não realize este último ponto sob pena de vir a ter problemas
futuros nas relações pessoais íntimas).
[Se me dão licença tenho de me despedir de grande parte dos
meus amigos que vão interromper a leitura do texto ao terceiro parágrafo sob a decisão:
«Depois leio o resto». Um «depois» infinito e intemporal que nunca se
materializa. Obrigado pela vossa atenção]
Agora, caro leitor, não pense que isto é só vir para aqui
mandar bitaites e depois estou no sofá a meter likes no Facebook como se
não fosse nada comigo. Aliás, se estou a fazer uso da palavra terei de
forçosamente dar exemplo. E como tal refiro que uma das minhas resoluções para
o ano de 2014 foi a de inserir a «escrita» como parte activa na minha vida.
Todos já frequentámos as reuniões dos Procrastinadores Anónimos, uns mais do
que outros, e certamente voltaremos a frequentá-las ao longo da nossa vida, a
questão aqui prende-se com a consciência de que a concretização isolada das resoluções
de cada um terá um impacto enorme na História do nosso país. E não é
necessariamente obrigatório termos uma resolução igual à que aquele rapaz
madeirense teve há uns anos atrás: «Este ano vou lutar para ser o melhor
jogador de futebol do mundo», mas há sempre um mínimo olímpico que temos de
impor às nossas capacidades, sob pena de falharmos com o nosso orgulho. Ou
querem ser tratados abaixo das vossas capacidades? Não quero ouvir mais ninguém
a chegar a um estabelecimento e a pedir «cafezinhos», «bolinhos», e «suminhos»,
a partir de agora é: “Desculpe, queria um cafezão!”, e se por acaso vos responderem
com um “Queria? Já não quer?” vocês levantam-se e vão lá servir-se porque
entraves haverá sempre mas o único verdadeiramente impeditivo somos nós
próprios.
(1)O insecto Laxismu-pontuallys
é uma espécie endémica de Portugal que todos os anos ataca milhões de
portugueses.
Caro Frederico,
ResponderEliminarAlém de "divertido, interessante e fantástico" - reações dos leitores à sua publicação - este texto é de facto uma amostra de que realmente possui os atributos necessários para colocar em prática (com qualidade intrínseca nas suas palavras) a sua resolução de 2014.
Concordo com a sua visão e agrada-me o seu sentido de humor numa escrita que transmite ao leitor um valor acrescido à forma como decide gerir o presente tendo em conta o futuro próximo de novas gerações.
Admito no entanto, sentir à partida alguma relutância relativamente ao sucesso pessoal de todos os intervenientes na História, pois infelizmente reconheço (bem como o próprio Frederico deve constatar), a falta de atitude (força de vontade e desmotivação) e o “apodrecimento” dos valores inerentes a quase todos os Cidadãos do nosso país. Obviamente que falo numa generalidade, pois sei que vários são os casos de sucesso a deixar marca no percurso de Portugal, ex.: o rapaz madeirense; o Sr. António Damásio; Ricardo Araujo Pereira; o Sr. Manoel de Oliveira, entre muitos outros que infelizmente desconheço e portanto não identifico.
Por fim… - é certo que é possível atingirmos os nossos objetivos, mas tem que concordar comigo que é realmente urgente implementar uma força extra na educação de todas as gerações.
As atitudes de hoje mudam o amanhã…