Quando
Terry Eagleton ou Peter Burke concluíram que a Cultura não mais é do que um
conjunto de significados partilhados, estariam longe de imaginar certamente que
tão concisa e pertinente reflexão, pouco viesse a servir para iluminar grande
parte das mentes de quem tem responsabilidades no tratamento daquele vital
factor da condição humana.
De
região para região, comunidade para comunidade, os factores (significados)
variam, o que faz com que uma política cultural tenha que ser personalizada,
adaptada, ao que a sua Cultura suscite. Ter uma política cultural é pois muito
mais do que fazer mera divulgação artística, organizando eventos ou apoiando
financeiramente Instituições. No que a Sintra diz respeito, tem o concelho
realidades culturais bastantes díspares, desde logo pela existência de uma área
predominantemente urbana em oposição a outra de cariz rural e que integra
também o Centro Histórico de Sintra e a área classificada de Património
Mundial. Nesta última como factores culturais podemos identificar desde logo e
sem aprofundadas reflexões, a componente do Património, natural e edificado, a
íntima ligação com a economia do Turismo e a forte ligação das suas gentes aos
lugares por via da assumpção de elementos identitários.
Ora,
é-nos familiar ouvir constantemente de diversos responsáveis, autárquicos e de
Governo central, o seu gosto pela Cultura e a sua preocupação em lhe prestar a
devida atenção. No entanto, até no seu discurso impera o desmazelo. São
conhecidos os concertos para violino de Chopin tanto do agrado de Santana
Lopes, a “Utopia” de Thomas Mann (em vez de Thomas More) lida por Cavaco Silva
ou a “Fenomenologia do Ser” que só na cabeça de Passos Coelho foi escrita por
Sartre. A nível local, também o discurso é pródigo em confusões. Confusão entre
a Quinta da Amizade e a Quinta da Alegria; o Palácio da Gandarinha ter sido
“uma casa para meninas”; ou a Volta do Duche ser “a entrada de Sintra”. Haverá
certamente coisas mais graves, mas a impreparação e o desleixo são gritantes.
Sai a Cultura (e a Memória) maltratada.
Um estudo de caso: a
Agenda Cultural.
Regra
geral, todo o Município a tem. Privilegiando-se as iniciativas artísticas, de
estrutura mais ou menos coerente, é um documento universalmente conhecido. Mas,
que agenda cultural merece Sintra? Pegando na existente, (que ao que consta vai
acabar em suporte físico, ficando resumida à edição digital…) à vista saltam
logo um conjunto de incongruências e a estrutura formato “saco de gatos” onde
tudo cabe. Na secção ‘Monumentos’, encontramos: Parque da Liberdade, Parque das
Merendas, Parque dos Castanheiros e… Parque Natural Sintra-Cascais! Em ‘Parques
e Jardins’ impera uma iniciativa relacionada com falcoaria protagonizada pela
empresa Parques de Sintra – Monte da Lua. Incompreensível num documento deste
tipo é o elenco de diversos serviços camarários, farmácias existentes,
restaurantes e bares. O cúmulo é atingido com a publicitação de espaços que já
não existem ou que nunca existiram. A fotografia aqui presente retrata um local
indicado no bairro de São Pedro como um bar e que outrora não foi mais do que uma
taberna. Hoje está ao abandono. Não merecerá a restauração um documento de
divulgação específico, enquadrado até numa estratégia de apoio ao comércio
local? Não deverá a Câmara Municipal contemplar na sua política cultural,
estratégias de divulgação diversificadas consoante as características das
diferentes realidades existentes? Não deverá cuidar pela informação que divulga
ou patrocina, de forma a não se deixar ligar a situações tão ridículas como a
que anteriormente é demonstrada?
Incúria e banalidades.
Ano
após ano é esperado que o marasmo e o desleixo que tomaram conta de
problemáticas do quotidiano se desvaneça. Os problemas são conhecidos e deveras
apontados por diversos cidadãos comuns dedicados à intervenção cívica. Contudo,
de responsáveis apenas se houve estafados discursos recheados de lugares
comuns. Ora se evidenciam lendas e narrativas respeitantes ao imaginário
sintrense. Outras vezes cita-se Byron que em Sintra não passou mais do que
algumas horas. Esquece-se Oliva Guerra ou Francisco Costa, entre outros,
exemplos “menores” para dialécticas onde tais nomes, a estarem presentes, nem
soam bem. É inquestionável que tudo na vida dá trabalho, até mesmo pensar. E
certo é também que custa tanto fazer bem como fazer mal. A diferença está na
postura que se toma. Que mude o paradigma. Que a cultura de uns deixe de
atentar à Cultura de todos.
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