Estamos quase a um ano da data
das últimas eleições locais, na sequência das quais foi empossado o novo
executivo autárquico presidido pelo Dr. Basílio Horta. Sem que possa dizer-se
que só agora começou a enfrentar os imensos desafios do concelho, a verdade é
que, tão pouco tempo passado, já há quem apresente sinais de disposição para a
avaliação do trabalho desenvolvido.
Por mais tentadora que pareça, a
hipótese de avaliação no termo do primeiro ciclo anual de um mandato quatro
vezes mais abrangente, afigura-se-me algo desajustada, quando não, mesmo
inadvertida. Tal não significa que, por outro lado, não considere pertinente
coisa diferente, concretizável em qualquer momento do mandato, qual seja o escrutínio
da actividade dos edis.
Refiro-me ao assíduo controlo dos
cidadãos e, esse sim, é manifestamente desejável na medida em que, ao
processar-se, prova como é real a cidadania e a participação activa na vida da
comunidade. Falo, se quiserem, de uma atitude que vai contribuindo para a
avaliação global que, individual e colectivamente, se traduzirá num voto em
determinado sentido, depois de os eleitos terem cumprido a tarefa que se
propuseram concretizar.
Assim sendo, então, aquela
vontade de avaliação referida no parágrafo inicial deverá ser lida e
interpretada como sinal do escrutínio informal e implícito que vai tendo lugar.
Umas vezes, na página impressa de um jornal local, noutras, através de
desabafos nas redes sociais, a avaliação, afinal, é peça em permanente construção.
Tão somente na sede do concelho, no que se relaciona com sinais de
escrutínio/avaliação, que a ninguém têm passado desapercebidos, encontraremos
uma meia dúzia de casos que, entretanto, de facto e inequivocamente, têm de ser
esclarecidos e resolvidos com a urgência que requerem.
Estacionamento
No entanto, para efeito de
confirmação destas considerações, permitir-me-ia lembrar apenas duas situações,
de dimensão e características bem diferentes, que andam na boca de todos.
Começarei pela questão do estacionamento, absolutamente estruturante e
tão sistémica que pressupõe, não só a mais íntima articulação com a renovada
perspectiva da uma rede integrada de transportes públicos, com diferentes e
inovadoras valências, mas também novas e corajosas soluções disciplinadoras
dos fluxos de trânsito.
Tenhamos em consideração que
estão apontadas e são pacíficas soluções como a dos parques periféricos, que
vigoram em tantos lugares congéneres, em articulação com parques de
proximidade, pequenas bolsas a requalificar, bem como a instalação de silo
vertical satisfazendo as restritas necessidades dos hoteleiros do centro
histórico.
Nestes termos, o que poderá o
executivo camarário anunciar no sentido de tranquilizar a comunidade quanto à
resolução de situações tão embaraçosas como a recém-vivida, durante o pico
turístico, com o extraordinário afluxo de viaturas demandando os emblemáticos
pontos de interesse de Sintra incluindo os altos da Serra? De facto, não parece
possível adiar mais as medidas e, portanto, o seu anúncio, sustentado por
cronogramas tão realistas como exequíveis.
Heliodoro Salgado
Seguidamente, um eixo de
permanente controvérsia. Encerrar ao trânsito e transformar parte desta artéria
em zona pedonal, com o objectivo de animar o comércio local e proporcionar aos
cidadãos um espaço de encontro, de convívio e de animação, resultou num
projecto infelizmente condenado ao insucesso, cujas vertentes estética e
técnica, ao longo de treze anos, têm sido objecto das mais diversas e
frequentes polémicas.
Demonstrando que assim é, o
espaço transformou-se em abusivo parque de estacionamento e numa zona de
travessia de veículos particulares e comerciais que, constantemente,
desrespeitam as regras vigentes. Pavimento irregular e impermeabilização são
apenas duas das suas muitas características negativas, susceptíveis de causarem
acidentes porque põem em causa a segurança dos transeuntes.
De igual modo, também no que se
refere à parte da via por onde circula todo o tipo de veículos ligeiros e
pesados, de passageiros e de mercadorias, as queixas não podem ser mais
pertinentes já que, deficientemente aplicada, a calçada de paralelepípedo
apresenta tais ondulações que, constantemente, chassis e cárteres
faíscam quando batem no solo perante a estupefacção de quem assiste, sempre à
espera de acidente ou incidente mais ou menos grave.
Conjugada com esta situação, que
tanta insatisfação tem gerado, outra, mais recente, avulta de modo inequívoco.
Reporto-me à questão da ponte metálica pedonal que, tendo sido removida
para beneficiação, nunca mais foi reposta. Trata-se de um dispositivo
importantíssimo, condição sine qua non para a practicabilidade da Heliodoro
Salgado cuja ausência impede a ligação entre os bairros da Estefânea e da
Portela.
Está em causa a possibilidade de
fácil, rápido e expedito acesso dos espectadores dos eventos no Centro Cultural
Olga Cadaval que, não fosse este impedimento, poderiam estacionar as suas
viaturas no parque adjacente ao edifício do Departamento do Urbanismo.
Naturalmente, cumpre saber se, em definitivo, a estrutura em apreço será ou não
reposta.
Igual e complementarmente, se tem
ouvido dizer que a Câmara pretenderá prolongar a linha do eléctrico
– que, actualmente, estaciona junto à Vila Alda – até à estação terminal
da CP e à Vila Velha. Mais se diz que é na perspectiva de tal prolongamento,
que os trabalhos de reparação dos pavimentos da Heliodoro Salgado ainda não se
concretizaram uma vez que o eléctrico circulará precisamente em ambos os troços
da artéria. Será assim?
Em conclusão, acerca dos seus
próprios propósitos, só a Câmara Municipal de Sintra pode, só ela deve
esclarecer, seja no que se refere ao compósito problema do estacionamento seja
no respeitante ao fundamental eixo viário e pedonal e assuntos relacionáveis
supra referidos.
Não sendo admissível pensar em
avaliações no termo do curto período de apenas um ano de trabalho da actual
Vereação, afigura-se da máxima conveniência que, constantemente sujeita e
objecto do escrutínio dos munícipes, a Câmara se recuse alimentar um statu
quo caracterizado pela prática do diz que diz.
Escrutínio, a quanto
obrigas? – Naturalmente, à partilha da informação, na prática de uma cultura do
exercício do Poder que é indispensável à qualidade de vida.
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