A torre erguia-se para o alto,
inerte e silenciosa na paisagem desnuda. Outrora sentinela alerta, teimava em
resistir aos elementos da natureza que haviam derrubado e destruído tudo o que
à sua volta se encontrava.
Sineira que fora em tempos
passados, a torre deixava ver duas janelas em arco esventradas, permitindo
antever os suportes dependurados dos quais os sinos repicavam chamando e alertando o povoréu,
quem sabe se para um acontecimento notável, ou então para os chamar a pegar em
armas e defender o que lhes era pertença.
Do alto da
torre enxergava-se tanto quanto era possível enxergar, fazendo desta a primeira
linha de defesa da aldeia situada na planície em pleno campo aberto, banhada
por um cristalino e sempre eterno ribeiro, cujas águas nunca faltaram ao
abastecimento das populações.
Era assim
fértil a aldeia, com os seus campos cobertos de verde e de amarelo, onde não
faltavam as cabeças de gado, contribuindo com os seus mugidos e balidos para
animar a pacata aldeia. As crianças fruto das circunstâncias e necessidades
faziam-se cedo pequenos homens, ajudando no que preciso fosse, educando-se na
escola da vida, tendo por mestres os ensinamentos de toda uma aldeia, que via
neles, o seu futuro e continuidade. Brincadeiras também as havia. Era no tempo
das festas e folganças. Aí todos se divertiam, cada um à sua maneira e de
acordo com a sua idade, e porque não estatuto. Quer queiramos, ou gostemos ou
não, as classes sociais sempre existiram e coexistiram. Sempre houve
necessidade de chefias e de reconhecimentos, com base por vezes em coisa
nenhuma, o que não invalidou a criação de castas e de nobres, dons e de outros.
A ganância e o desejo de poder terão feito o resto, conjugado com o facto de
que quem tem um olho é rei, e cego é todo aquele que vive na ignorância, pois o
verdadeiro cego conhece os seus limites e barreiras, e luta para as
ultrapassar.
A outra
torre gémea igualmente sinaleira e sineira, construída para o mesmo fim, e à
vista uma da outra, há muito que fora abaixo, fruto das lutas de outros tempos,
do próprio tempo, e da insensibilidade dos homens, esgotada que foi a sua
utilidade e função.
A tudo isto,
com mais ou menos convulsão, a altaneira torre sineira assistira, reclamando
também ela de tempos a tempos por uma reparação, um aconchego, de pronto
atendida, não fora qualquer contratempo colocar em causa a sua eficácia e
eficiência, razão sobeja para a sua existência..
Hoje,
volvidos que foram muitos anos, a nossa torre continua a ser alvo de admiração
dos homens e mulheres que se deslocam até junto da sua base, para a observar na
sua plenitude, e recuar no tempo sonhando outros tempos, imaginando o
imaginário porque não vivido, mas profundamente sentido pelos múltiplos
registos e relatos.
A torre é
hoje património histórico e da humanidade. É importante preservar a história
dos homens, que mais não seja para que possamos aprender com os erros do
passado, lutando pela construção de um mundo cada vez melhor para as gerações
futuras.
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