JÚLIO CORTEZ FERNANDES
Membro
do Directório incumbido pelo congresso republicano realizado em Setúbal
em 1908 de concretizar a Revolução, Cupertino Ribeiro filiou-se no
Partido Republicano Português aos 18 anos. Tornou-se graças ao seu
esforço e habilidade para o negócio num rico comerciante industrial e
gestor, cuja bolsa esteve sempre aberta para ajudar a causa da
República. Nasceu em Pataias, concelho de Alcobaça , e faleceu em Lisboa
na sua casa na Rua Braamcamp no dia 11 de janeiro de 1922, data
desconhecida, que aqui divulgamos finalmente.
Implantada
a República foi eleito deputado à Constituinte, sendo posteriormente
Senador. Cupertino Ribeiro, ambicionava ser Ministro das Finanças do
Governo Provisório, tendo sido preterido em favor de Sidónio Paes,
conotado com a ala radical e jacobina do Partido Republicano,
contrariamente, Cupertino
sempre se colocou ao lado dos moderados, tendo aderido ao Partido
Unionista de Brito Camacho, em oposição ao PRP, partido que dominou a
cena politica nacional a partir de 1910. Cupertino Ribeiro era
proprietário da Fabrica de Estamparia e Tinturaria de Rio de
Mouro, Sintra. Comprou uma das mais importantes quintas da localidade, a
Quinta da Ponte, que remodelou e onde construiu uma ampla moradia,
frequentada pela melhor sociedade lisbonense do tempo,a quinta passou a
ser conhecida por Quinta do Cupertino. Junto da mesma, e frente à
fábrica mandou edificar um bairro para os operários.
Contribuiu
com a avultada quantia de 35.000$00 para a construção do cemitério
paroquial, iniciativa da junta republicana de 1909-1911, eleita, em parte
devido à sua influência. Com as divisões surgidas no seio do movimento
republicano depois de 1910, os radicais tomaram conta da junta e
Cupertino Ribeiro, desiludido, terá desistido da ideia de mandar
construir o seu mausoléu no cemitério da terra que tanto amava.
Vendeu
a fábrica, transformada pelo novo dono em local de tratamento de
curtumes, actividade causadora de poluição acentuada do rio, e cheiro
nauseabundo de que os habitantes se queixavam,nomeadamente os moradores
da povoação de Francos situada a jusante da "curtimenta".
O
seu funeral realizou-se para o cemitério lisboeta dos Prazeres, sendo a
sua urna depositada, no jazigo da família Ferreira Braga, parentes da
sua viúva D. Adelaide. Foi acompanhado até a última morada pelos amigos
de sempre entre eles: o general Correia Barreto, ministro da Guerra,
Inocêncio Camacho, governador do Banco de Portugal, Tomé de Barros
Queiroz, Guilherme Graham destacado capitalista, muitos comerciantes
importantes como Ramiro Leão, e também pelo antigo pessoal da fábrica
que lhe devotava sincera estima.
Em
catorze de Janeiro a Junta de Freguesia de Rio de Mouro reuniu em
sessão ordinária, na qual não foi feita qualquer referência ao
desaparecimento de Cupertino Ribeiro, a maioria era do PRP, para que não
restassem dúvidas que o gesto foi deliberado, o presidente referiu "só
se devem tratar dos interesses da freguesia arredando-se de qualquer
nota politica", quer dizer nada de falar no falecido. Cupertino Ribeiro,
que tanto se orgulhava da vitória da lista republicana nas eleições de
1909 em Rio de Mouro, recebeu no fim aquilo que os políticos desavindos
distribuem como ninguém: vil desprezo a quem deviam estar gratos.
Completou-se o ano passado o 90º aniversário da sua morte, figura de relevo
nacional, merecia que o facto se assinalasse, assim este singelo
depoimento é um contributo para que a efeméride seja lembrada.
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