domingo, 7 de julho de 2013

O Hotel Sanatório do Parque da Pena

JÚLIO CORTEZ FERNANDES

No período conturbado do início da 1ª República, no seguimento da Revolução de 5 de Outubro de 1910, surgiram várias iniciativas com origem nos poderosos interesses instalados, com objectivo de concretizarem projectos, aproveitando a situação complexa que então se vivia. Um deles dizia respeito à construção do empreendimento citado em título. Este facto deu origem a um movimento generalizado de repúdio, concretizado por várias iniciativas, uma das quais uma carta dirigida ao Ministro do Interior onde os signatários: "Vem respeitosamente significar a V.Xª quanto lhes é penosa a ideia, pela qual sabem que se trabalha de construir dentro do Parque da Pena um Hotel-Sanatório", assinavam figuras ilustres da cultura, tais como Raul Lino, Henrique Trindade Coelho, Columbano Bordalo Pinheiro, Afonso Lopes Vieira, J.Câmara Pestana e José de Figueiredo entre outros.

Quando o assunto foi discutido no Senado,aproveitando a presença do Ministro do Fomento(António Maria da Silva), o ilustre senador sintrense Dr. Brandão de Vasconcelos,interveio de forma brilhante na sessão de 20/1/1913, tendo afirmado:

"Não posso deixar de falar sobre a pretendida cessão do Parque da Pena a um particular, eu resido no concelho de Cintra há muitos anos... mas acima dos interesses do concelho, ponho os interesses nacionais" esclarecemos que a Cãmara Municipal apoiava o projecto. Continuando, o Dr. B. Vasconcelos dizia "V.Xª sabe quanto custou ao Estado este Parque? Quatrocentos contos de réis, o que é que esse particular vem pedir? Um parque arborizado, quando tem na serra uma extensão enorme sem arborização que pode arborizar à  vontade, mas não; querem o que está feito, é que o Estado ceda  grande parte duma propriedade que vale 600:000$000 réis. O parque tem 250 hectares e pedem-se 150 pelo menos! O projecto está habilidosamente feito e quem o apresentou... não conhecia a extensão do que era pedido. Dizia-se que o Estado cedia a esta sociedade a parte oeste. Quer dizer, desde que se deixasse um metro quadrado do lado nascente, podia levar todo o resto. Conservar o jardim? Não senhor, os doentes podiam passear no jardim mas o Estado é que conservava esse jardim. Mas independentemente da especulação, há uma circunstância a ponderar, é que o parque está debaixo da direcção dos serviços florestais e muito mais bem conservado que no tempo da monarquia e que nos últimos tempos do Sr. D. Fernando (...) Estou convencido de que o Sr. Ministro não virá dizer que este projecto é viável, estou certo que o Governo há-de pôr entraves por todas as formas a que seja feita  esta expoliação ao país."

Em resposta o Ministro António Maria da Silva disse: "Pelo que diz respeito ao parque da Pena,posso afirmar desde já que me hei-de opor, quanto em minhas atribuições caiba a que possa ir por diante o que se pretende. Já em tempo uma senhora Lima Mayer tinha pedido a concessão do parque da Pena, para instalar um Hotel-Casino, da parte porém, dos funcionários,que tiveram interferência no caso, houve acentuada repulsão desse pedido. E devo dizer que este parque é hoje considerado, pelos botânicos estrangeiros e touristes, como um dos primeiros arvoredos da Europa".

O Parque da Pena teve sempre grandes e valorosos defensores e contrariamente ao que muitos pensam, esta maravilha não veio para o património do Estado por confisco ou nacionalização mas por compra aos herdeiros do Senhor D. Fernando II, com o dinheiro dos contribuintes, é portanto pertença de todos os Portugueses.
  Foto cortesia do blogue Serra de Sintra

1 comentário:

  1. A foto refere-se ao IV Congresso Internacional de Turismo, segundo revista da época (com reportagem no interior):
    http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/BrasilPortugal/1911_1912/N296/N296_item1/index.html

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