Ao contrário de outros tempos e de outras mentes mais
arejadas, aqueles tempos e aquelas mentes que levavam a Europa ao Mundo e
traziam o Mundo à Europa, temos hoje a mania de açambarcarmos tudo aquilo que
achamos nosso. Guardamos a coisa como um segredo, a pensarmos que possuímos um
tesouro velado que, afinal, toda a gente conhece.
Em meu entender, por fraco que seja, essa maneira
aporrinhada e mesquinha de esconder a portugalidade tem consequências
dramáticas no espalhar – que se desejava contínuo – de algumas mensagens boas
que largamos ao Mundo. É limitada e limitativa. Coloca fronteiras, muros e
grades ao pensamento.
Mas isto é apenas aquilo que nós pensamos e de pouco vale
esta forma de agir para o resto do globo. E ainda bem, digo eu.
Deste legado nosso que aferrolhamos a sete chaves faz
parte – ou é porção importante – o caso do messianismo português, sebastianista
e à espera do V Império, tão bem expressado e condensado pelo Padre António
Vieira e que, ainda hoje, felizmente, tem muitos seguidores e continuadores.
Destes últimos, só dois nomes maiores, para não engrossar a lista: Fernando
Pessoa e Agostinho da Silva.
Ora, acontece que Vieira também deixou a sua corrente a
vogar no sangue do povo brasileiro. Há uma impressão, eu diria uma tatuagem,
messiânica também na alma do Brasil. E, tal como deste lado do oceano, por lá
os pensadores, os artistas, essa massa entrelaçada de gente que conhece o
ontem, escuta o hoje e pensa o amanhã, continua, igualmente, a adubar a terra
onde se plantam esses sentimentos.
É mais evidente, outra vez na minha fraca visão, no caso
do movimento Tropicália, com Caetano Veloso e Gilberto Gil à cabeça. Mas ele
tem lugar proeminente também na literatura brasileira, com uma expressão
bastante profunda e nada aparente em João Ubaldo Ribeiro, ou no cinema de
Glauber Rocha.
E há outra coisa ainda, que não sei se é toda linda. O
Brasil até conservou melhor o Culto do Espírito Santo, bandeira e baluarte do
Mundo que há-de vir. Portanto, em vez de grades devíamos andar a construir
pontes, a abrir rotas de torna-viagem, que proporcionassem um reencontro de
espíritos comuns com caminhadas comuns. Nesta e noutras matérias, evidentemente.
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