O que olhas?
Os moinhos
Que moem?
Saudades do meu amor
Onde as guardas?
No fundo do meu coração
Quão fundo?
O suficiente para as não
perder
E o teu amor sabe?
Ainda ando à procura do meu
amor
Mas há pouco falaste nos
moinhos …
Falei nos olhinhos
Ou isso
Falei nos olhinhos que viam
os moinhos
E falaste nas saudades do teu
amor
O meu amor és tu
Mas eu ainda aqui estou
Daí que as saudades estão
guardadas
Sim, vou embora agora
Está na altura de soltar as
saudades
És tonto
O amor é tonto. As saudades prologam
esse amor
Empresta-me o moinho
Se te o emprestasse perdia-te
para sempre
Não digas a palavra sempre
Nada é eterno
Tudo é efémero bem o sei
Sem ele não mais poderia moer
as saudades que sinto
Mas eu também quero levar
saudades
Procura-as dentro de ti
Vou fechar os olhos e
imaginar-te para sempre
Agora foste tu que usaste a
palavra sempre
Somos excessivamente
materialistas
É um dos males dos tempos que
correm
Fiquei sem vontade de partir
Mas íamos os dois ou já te
esqueceste?
Sim, mas aquela coisa das
saudades
Foi a forma que encontrei de
dizer o quanto gosto de ti
E eu senti-me verdadeiramente
tocada por ti
Chama-se a isso paixão à
distância
Mas estamos aqui os dois ao
pé um do outro
Mas os nossos espíritos
cavalgaram por momentos para longe
Senti-me momentaneamente
despida
Eu seguramente fiz amor
contigo
Mas os nossos corpos não se
tocaram
Mas os nossos sonhos sim
Confesso que por momentos te
senti
Selemos este breve tempo com
um beijo
Bem, tenho que me ir embora
apanhar o comboio
Quando chegares ao destino
avisa. Sabes que fico preocupado
A distância não é assim tão
grande
Pois não, vais só ao outro
lado da rua
Certo, vou só buscar umas
coisas à minha mãe
Mas mesmo assim diz qualquer
coisa quando chegares
Está bem, fica descansado. As
distâncias são curtas mas os caminhos são maus
Se precisares de ajuda basta
chamares
Para onde vou não são
precisos telefones
Sim, mas se as palavras
ficarem entaladas usa os sinais
Como sei que estás atento a
olhar?
Nem sei se tenho de que olhar
Tens razão, nem braços tenho
Conhecer-te-ei pelo cabelo
solto ao vento
Já te esqueceste que me o
cortaram rente?
É verdade, raparam-te o
cabelo deixando dois olhos a vogar rumo ao infinito
Sinto-me bem nesse infinito
como dizes
Mataram o pássaro que havia
dentro de ti
Parti com ele, voamos os dois
para longe
Um dia destes vou ter contigo
Enquanto tiveres os teus
moinhos não vale a pena
Os meus moinhos já não moem
mais saudades
Deixaste-as morrer ou fugir?
Guardei tantas que já não
cabem dentro de mim
Deixa-as sair devagarinho uma
a uma
Preciso de me libertar e de
seguir o meu caminho
Solta-te, ainda há tempo
Ainda sou tempo mas os
olhinhos já não vêm mais moinhos
Que vês então?
Nada, estão turvos de água
impura.
Vamos que eu ajudo-te. Como
vês ainda aqui estou
Estás e estarás para todo o
sempre.
14/06/2011
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