Olhei
no espelho do mar e vi-me reflectido no sol.
Abri
os braços e fundi-me nos seus raios.
Uma
gaivota passou voando e transportou-me com ela. Fechei os olhos e deixei-me ir
nas asas do tempo
Senti
um arrepio de frio e despertei para a realidade.
O
sol há muito se fora nos braços do mar.
Só,
na praia, recolhi os tarecos e caminhei de regresso ao carro, que agora estava
igualmente solitário no parqueamento, esperando por mim.
As
lâmpadas iniciavam um breve piscar, enquanto aqueciam lenta e gradualmente, até
inundarem de luz o espaço envolvente.
Fora
surpreendido pelo rápido cair da noite.
Mais
um dia se passara sem que contudo ganhasse coragem para marcar a consulta
médica que me propusera fazer, face a alguns sinais estranhos que vinha a sentir,
de há uns tempos a esta parte.
Uma
ligeira sensação de enxaqueca instalada, ia para um mês, aliada a tonturas
pontuais, vinham bulindo ligeiramente com o meu sistema nervoso.
Faltava-me
a coragem para dar o passo seguinte.
E
se tudo não passasse de imaginação minha, de mãos dadas com o excesso de
trabalho a que fora sujeito recentemente?
O
certo, é que iniciara as férias ia para 3 dias, e ainda me não conseguira
desligar daquela situação incómoda, e encontrar o equilíbrio relaxante.
Vagueei
um pouco pelo vazio pontão junto ao mar.
Não
me apetecia recolher ao carro, e acto contínuo rumar até casa.
O
mar vinha lamber de manso as rochas postadas ao longo do paredão. As mesmas
apoiavam, ajudando a quebrar o ímpeto das águas.
As
lâmpadas postadas de cada lado do pontão, estavam agora no máximo do seu apogeu
irradiante.
Uma
vez chegado ao final do pontão, debrucei-me levemente olhando em baixo as
águas, que iam e vinham num breve sussurrar.
De
repente senti clarear, e a superfície das águas virou dia.
Levantei
os olhos para poder apreciar uma grande e redonda lua cheia, que acabara de se
erguer aparentemente do seu leito húmido, e que se punha em bicos de pés,
tentando alcançar uma estrela grande, visível no claro azul do céu. Sorri
perante as dádivas da natureza.
Pela
primeira vez em muito tempo, senti vontade de desabafar. De gritar alto. De me
fazer ouvir na quietude da noite.
Ultrapassei
os receios. Pus de lado a vergonha. Encontrava-me apenas acompanhado com os
meus receios infundados, e preconceitos calcados e recalcados.
Ouvia
uma voz falar-me baixinho. A impelir-me para diante.
Subi
para as estacas da vedação. Abri os braços à lua, e deixei sair um grito.
Inicialmente meio contido e em voz baixa confesso. Mas foi só o princípio.
Senti
cortarem-se as amarras. Romperam-se as barreiras. O grito saiu forte. Ecoou na
noite. Ao primeiro outros se seguiram, e a sensação de alívio e de leveza era
tamanho, que dei por mim já no chão, aos pulos no pontão.
Sentia-me
bem. Livre. Algo que me oprimia soltara-se.
Começaram
a surgir luzes de faróis. Com eles vinham os carros que agora começavam a
ocupar os espaços até então vazios do estacionamento. Olhei o relógio. 22
horas.
Iniciei
o percurso até ao carro. Sentia-me estranho e alegre.
Desatei
a cumprimentar todos quantos por mim passavam, e que me olhavam de soslaio.
Cheguei
ao carro e liguei o rádio, num gesto já repetido e gasto. A música ecoou
vibrante e melodiosa. Todo eu comungava daquela melodia suave e quente.
Algo
acontecera comigo, e eu não tinha resposta para o que se passara. Era
maravilhoso. As desagradáveis sensações haviam cessado. Os maus pensamentos
haviam ficado de lado, dando lugar a novas sensações e ao gosto de viver e de
comungar com os outros.
O
meu estômago acusou as horas. Na verdade, ainda não jantara. Conseguira quebrar
uma série de rotinas, uma das quais passava precisamente pela hora sagrada do
jantar, que ocorria impreterivelmente pelas 20 horas.
Talvez
fosse esta a mudança necessária. O quebrar de rotinas. O fazer coisas
diferentes em locais especiais e naturais.
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