Com encenação de João de Mello Alvim e interpretações de Alexandra Diogo, Nuno Machado e Susana C.Gaspar, estreou ontem na Casa de Teatro de Sintra a peça Sem Rede, a partir duma história de Ana Saragoça.
Retrato do Portugal destes anos de chumbo, por lá passam as inseguranças e as sombras dum país desestruturado: o conflito de gerações, a infelicidade, a desilusão de sonhos perdidos na vertigem dum país novo rico e que de repente se descobre pobre. E tudo sem rede, cruel e disruptivo.
Quem não foi revolucionário aos 20, não tem coração, quem o é aos 40 não tem cabeça, escreveu um dia Jorge de Sena. E lá estão os corações feridos e as desilusões dos 40, nostálgicos de amanhãs que nunca chegaram, e a geração SMS, virtual e empedernida, sem sonhos dos 20, mas precocemente vencida duma vida castrada e castradora onde se tarda em entrar, nem que seja pelas portas do fundo. E, improvável fio condutor de toda a trama, o Facebook, essa nova fonte de infelicidade, ressuscitando feridas nada virtuais, expondo solidões e mentiras e inesperado corifeu desta tragédia não grega, silencioso e cruel.
Ver Sem Rede é observar um espelho para o qual todos contribuímos, onde não se pergunta quem é mais belo mas de onde atrozes saltam dedos acusadores, silêncios gritados, penumbras de impotência. É Portugal, e 2013, e tarda a catarse que, como disse a autora no final, torne o texto definitivamente datado. Para ver, estamos lá todos, afinal.
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