domingo, 6 de outubro de 2013

Ontem andei a pé na minha Sintra

BÁRBARA JORDÃO RODHNER






Ontem andei a pé na minha Sintra.
Era noite e era dia.
Parei de frente a uma casa abandonada outrora ardida em horrores.
semi cor de rosa e semi apagada Já foi vendida e recomprada mil vezes;
Mil vezes vendida e recomprada mas jamais restaurada…

Á medida que A olhava Ela olhava-me de volta e sem volta para mim.

Chamou-me à atenção uma janela;
uma janela que foi abandonada, aberta
Chamou-me à atenção as vidas que ali foram abandonadas, sonhos esquecidos fechados e largados.

QUEM VIVEU ALI?

Enquanto a mente cavalgava rapida e palpitante as lagrimas escorriam.
Sintra, sintra minha...
Enlouquece-me a loucura do abandono
Da Ruina.
Enlouquece-me a loucura de se poder comprar para abandonar,
Enlouquece-me ser possível TER para se Largar.
Onde foi parar o restaurar, o recriar, o reconstruir?

Enlouquece-me esta Sintra perdida, caída.
Enlouquecem-me as vozes que susurram de dentro e por dentro das paredes

Anda…Anda minha menina...
Fecha-me a janela, acende-me a lareira, refaz-me com a tua vida.
Habita-me. Ama-me. Cuida-me. Nutre-me… Faz de mim o t'Eu ninho.

e ao enlouquecer, enlouquecida enlouqueci.
Fugi.

Para dentro da minha casa não fosse aquele feitiço prender-me ali.
Perdida.Amarrada Sonhei no centro do meu leito.

Havia um Homem de cabelo branco, velho.
Arrombava-me a porta.
Eu via.
Eu impedia.

Ele dizia…
Podes-te esconder, mas eu vou-te sempre reencontrar
Estás perdida.
Estás assombrada.

.
Sintra, sintra minha, ao quanto me obrigas quando tens dias assim...
São noites tortas, enviuvadas que se traduzem em palavras encavalitadas que me dizem tanto e provavelmente quase nada. Servem-me os horrores para escrever contos aos setenta e seis anos de idade que hei-de completar depois do dia em que não morri.

Obrigada Sintra Cinza Minha.

Bárbara Jordão Rodhner


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