domingo, 1 de dezembro de 2013

No tempo em que ia às aparas

JOSÉ CARLOS SERRANO

 
Na minha casa sempre se criaram coelhos e galinhas!

Tínhamos um bom quintal e o meu pai fez várias coelheiras, com uns caixotes, que lhe ofereceram, na altura, da Tabaqueira. Eram grandes e resistentes. Era só colocar um aro com rede e fazia a frente. Num canto uma porta e estava feito. Vários caixotes encostados uns aos outros, em redor do quintal.

As galinhas, essas, tinham casa sólida, no quintal existiam umas arcadas, por baixo das varandas. Uma era onde a minha mãe tinha a “máquina de lavar roupa”, da época, um “tanque", outra era para arrumação de tralha e outra o galinheiro. Ainda era grande. À frente um aro, grande, com rede e com a porta. Lembro-me que o meu pai fez uma abertura no cimo da rede, com um poleiro. Era para entrarem e saírem outros “habitantes”, uns pombos brancos que, na altura, existiram. Lembro- que fizeram uma rica canja.

O meu quintal era uma “miniquinta”, tinha uma nespereira, muito grande e alta, quando “carregava” havia nêsperas para dar e vender. Havia um espaço grande, onde o meu pai plantava alfaces, comprava várias qualidades, depois de crescerem ficava um colorido espetacular. Em redor colocava couves, que serviam de vedação às alfaces e havia sempre um canteiro para centros, salsa e hortelã.

Foi sempre este hábito, de lidar com animais de criação e plantar verduras, que tive, desde muito puto e do qual gostava muito.

Só havia uma coisa que detestava.

Ir às aparas, de madeira, à serração dos Parrachos, por detrás da estação.

Quando o meu pai colocava a saca, enrolada, em cima duma mesa que existia na varanda, era sinal para eu ir.

As aparas eram muito importantes, eram a “cama” das galinhas.

Um puto tem sempre as suas manias, ou teimosias, mas tinha que ser!

Quando vinha da escola, lá ia eu. Entrava na serração, ia ao escritório ou procurava algum dos patrões e pedia se podia tirar uma saca de aparas.

Era fácil e divertido!

Para já o cheiro a madeira, depois procurar uma pá e encher a saca, calcar bem, para trazer bastante, depois amarrar bem a boca da saca e pés ao caminho.

Era isso que detestava! Vir com a saca às costas, o caminho todo!

O peso não era muito, era mais o volume. Mas tinha de ser feito e era a minha “ajuda”.

Tudo isto são aprendizagens prá vida.


Sem comentários:

Enviar um comentário