Não parecem ser frequentes as situações
em que a elevação ética coincide com a racionalidade político-económica –
às vezes, parece até que estas duas posições são por inteiro
incompatíveis. Vem isto a propósito do líder histórico da África do Sul,
Nelson Mandela. Na sua morte, ele tem sido sobretudo elogiado pela sua
elevação ética – em particular, na sua relação com a minoria “branca”
sul-africana. E todos os elogios que se lhe possam fazer nesta área não
são demais.
Aqui, porém, vamos elogiar Mandela pela
racionalidade da sua posição político-económica. Com efeito, ao não se
ter vingado da minoria “branca” sul-africana, como muitos dos seus
camaradas reclamaram, Mandela preservou a viabilidade política e
sobretudo económica do seu país. Ao contrário de outros líderes
africanos que cederam a essa tentação e, com isso, desmantelaram as
alavancas maiores das economias dos seus países – lembre-se o caso
exemplar do Zimbabué de Robert Mugabe –, Nelson Mandela percebeu bem que
expulsar a minoria “branca” (ou “atirá-la para o mar”, como ainda hoje
se ameaça) seria suicidário no plano económico.
Não é pois por acaso que, não obstante
todos os seus graves problemas sociais, que se mantêm, a África do Sul
continua a ser o país mais economicamente pujante daquela região. Ao
contrário de outros países – incluindo, é bom não esquecê-lo, algumas
ex-colónias portuguesas –, a África do Sul percebeu bem que um regime
democrático deve distribuir o mais justamente possível a riqueza criada.
Mas, para que tal aconteça, importa primeiro que se crie riqueza. Só se
pode distribuir o que existe. Não o que se destrói, por muitas (justas)
razões que se tenham para tal.
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