É um mito!
Toda a gente dizia: “fui à Câmara tirar a carta de moto “.
Simplesmente a malta ia à Câmara tirar uma “Licença de Condução
de Velocípedes”, no processo mais simples do mundo, apenas era necessário saber
uns sinais de trânsito, básicos, ter motorizada e capacete.
Eu tinha 16 anos e comprei uma “Famel Foguete Santa Maria”,
que me custou, na altura 1.500$00 (hoje em dia 15€), uma fortuna para mim, era
do sogro do meu irmão, motor Zundapp, 3 velocidades de pé.
Lá fui eu! Inscrição feita na Câmara. Naquela época o exame
era feito na Fiscalização, nas traseiras do Edifício, ao lado da Policia.
Primeiro, era a teoria, estudada no momento com uma agenda,
daquelas de bolso, facultada no local.
Segundo, não havia muita margem para enganos, era descer até
ao “Rio do Porto”, dar a volta e fazer um oito frente à porta da Policia.
Portanto, muitos olhos a ver!
Ou um gajo sabia andar ou estava lixado. Porque arrancar e
descer era fácil, agora subir e fazer o oito já carecia de perícia, porque era
feito em rampa. Correu menos mal, estava nervoso, e como morava ali perto até
conhecia algumas das pessoas que estavam a ver.
Ainda me lembro da minha “distração”, montei-me na motoreta,
de capacete no braço, o senhor explicou-me o que tinha de fazer e eu ia arrancar,
sem capacete, nas barbas da Policia e de quem me fazia o exame, ouvi logo: “ ó
artista mete lá o capacete “!
Correu bem, fiquei “ encartado “, já não tinha de andar às
escondidas.
Comecei cedo, 12, 13 anos em cima do passeio à porta de casa.
O meu irmão tinha motorizado foi fácil. Dei alguns tombos, mas faz parte da
aprendizagem. Velhos tempos em que se podia fazer isso em cima do passeio.
A Santa Maria foi marcante. Quando a comprei era toda preta,
e eu dei-lhe cor. Depósito branco com as letras a dizer Santa Maria a azul,
quadro amarelo, roda da frente vermelha, era “tutti – frutti”.
Todos os meses passava pela oficina, era frágil. Eu queria
que andasse muito e “berrava”. Aquilo era motoreta à “velhote”, para ir pró
trabalho, devagar.
Fazia corridas com as Casal Boss, que eram de duas velocidades,
e estavam “normais”. As que estavam quitadas 75, voavam baixinho!
Bons tempos! Muitas rampas da Pena, a descer à noite, ligada
e desligada, para ver quem embalava mais.
Às vezes corria mal e dava tombo, com muitas faíscas no meio
do escuro, era o metal em contacto com o asfalto.
Tenho muita pena, não tenho uma única foto da Santa Maria.
Parabéns texto simples história gratificante, recuerdos.
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