domingo, 18 de agosto de 2013

No tempo em que tirei a licença de velocípedes

JOSÉ CARLOS SERRANO


É um mito!

Toda a gente dizia: “fui à Câmara tirar a carta de moto “.

Simplesmente a malta ia à Câmara tirar uma “Licença de Condução de Velocípedes”, no processo mais simples do mundo, apenas era necessário saber uns sinais de trânsito, básicos, ter motorizada e capacete.

Eu tinha 16 anos e comprei uma “Famel Foguete Santa Maria”, que me custou, na altura 1.500$00 (hoje em dia 15€), uma fortuna para mim, era do sogro do meu irmão, motor Zundapp, 3 velocidades de pé.

Lá fui eu! Inscrição feita na Câmara. Naquela época o exame era feito na Fiscalização, nas traseiras do Edifício, ao lado da Policia.

Primeiro, era a teoria, estudada no momento com uma agenda, daquelas de bolso, facultada no local.

Segundo, não havia muita margem para enganos, era descer até ao “Rio do Porto”, dar a volta e fazer um oito frente à porta da Policia.

Portanto, muitos olhos a ver!

Ou um gajo sabia andar ou estava lixado. Porque arrancar e descer era fácil, agora subir e fazer o oito já carecia de perícia, porque era feito em rampa. Correu menos mal, estava nervoso, e como morava ali perto até conhecia algumas das pessoas que estavam a ver.

Ainda me lembro da minha “distração”, montei-me na motoreta, de capacete no braço, o senhor explicou-me o que tinha de fazer e eu ia arrancar, sem capacete, nas barbas da Policia e de quem me fazia o exame, ouvi logo: “ ó artista mete lá o capacete “!

Correu bem, fiquei “ encartado “, já não tinha de andar às escondidas.

Comecei cedo, 12, 13 anos em cima do passeio à porta de casa. O meu irmão tinha motorizado foi fácil. Dei alguns tombos, mas faz parte da aprendizagem. Velhos tempos em que se podia fazer isso em cima do passeio.

A Santa Maria foi marcante. Quando a comprei era toda preta, e eu dei-lhe cor. Depósito branco com as letras a dizer Santa Maria a azul, quadro amarelo, roda da frente vermelha, era “tutti – frutti”.

Todos os meses passava pela oficina, era frágil. Eu queria que andasse muito e “berrava”. Aquilo era motoreta à “velhote”, para ir pró trabalho, devagar.

Fazia corridas com as Casal Boss, que eram de duas velocidades, e estavam “normais”. As que estavam quitadas 75, voavam baixinho!

Bons tempos! Muitas rampas da Pena, a descer à noite, ligada e desligada, para ver quem embalava mais.

Às vezes corria mal e dava tombo, com muitas faíscas no meio do escuro, era o metal em contacto com o asfalto.

Tenho muita pena, não tenho uma única foto da Santa Maria.

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